"Faleceu, mas a que horas volta?"
Pois nos conhecemos aos dois anos e nunca nos separamos. Eu e Bebeth, a amizade foi selada, de fato, quando mordi o nariz dela. Seguimos a vida juntas, a adolescência, os bailes, as festas, também, fomos para o Jornalismo. Bebeth era espoleta, eu, mais panaca, mais capricorniana e muito malcriada. Eram anos oitenta, fervíamos na faculdade, ela, agitadora, quase foi em cana, eram tempos da ditadura, fomos colegas da nora do velho e rançoso Médici, eu pisava em ovos, me borrava de medo. Eu, filha de um extrema direita volver, mais sossegada, temia a "cana dura". Bebeth se enturmou num grupo de jovens mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias (dias que estão custando a chegar, caraca), nem tanto por fervor religioso, mas era porque os guris americanos, de camisas brancas de manga curta e gravata, eram muito bonitinhos. Incansável, ela ensinava palavras em português para os gringos, inclusive gírias da época, tudo era novidade. Os mórmons relatavam as visitas para as pregações e a gente achava graça do jeito que falavam. Não sei porque fui lembrar disto, talvez por saudade da minha amiga que não tenho visto. Mas numa destas, um dos guris contou que estava no ônibus e, numa freada, caiu no colo de uma senhora, em vez de pedir desculpa, ele lascou um "muito prazer", imaginei a cena. Certa vez um deles bateu numa casa e a dona atendeu, ele perguntou: "Seu marida está?", a senhora respondeu que ele havia falecido e o mórmon respondeu: "mas a que horas ela volta"? O rapaz não conhecia a palavra "falecer".
Poderia escrever um livro com as tiradas dos mórmons americanos. Na verdade estou escrevendo para falar de Bebeth, outro anjo na minha vida.
B a t