Solidãozinha
Acho que a solidão me fez bem um tempo, tenho que reconhecer. Fui uma criança tímida que leu muito - leitura essa que facilitou toda a minha vida e criou todos os poucos talentos que tenho. Mas solidão de criança é mais tranquila - a gente tem uma mente ainda fértil e forte, que não se autodestrói muito, e nos deliciamos na nossa própria imaginação.
O problema é que fiquei adulta e minha solidão também. Percebi que depende-se muito de pessoas em geral: inclusive para conhecer outras pessoas.
Não me divirto mais com minha mente e se fico muito em casa nós duas nos atacamos. Preciso de gente. Outra voz, que não seja minha, outras histórias, que não sou eu que vou contar.
Acho que não consigo mais amigos próximos por dois motivos correlatos:
ou porque eu incomodo
ou porque eu, com medo de incomodar, fico em silêncio. Porque pelo jeito, neste mundo, precisa-se lutar por uma conexão qualquer. Com qualquer coisa.
Não tenho esse fôlego, ainda.
Mas a minha utopia ainda é
uma casa cheia de pessoas que vieram me ver,
porque eu chamei,
e eu chamei sabendo que viriam, felizes,
sem medo de incomodar.