Assim ou nem tanto. 145
Indefinidos
Saiu a palavra, informe, da sua boca. As palavras nunca têm fronteiras definidas, disse o mágico. As palavras que se não dizem capazes de expansão, a quem diz tiranizam por serem de rigor férreo e pequeno, acrescentou. A seguir, ele falava e ninguém escutava mas saíam cores, formas, maravilhas por onde todos esperavam sons, sons e calor, vapor irizado de frio ou de veemência. Ninguém, na verdade, escutou o que trazia mas onde houvesse olhos, o som via, caminho de flores, bichos, dores, algum rio e começo de mar. Agora o mago era bruxo e não maravilhava. Assustava o que disse e o som trazia trovoada consigo, e caiam pedras, fogo, anátemas, cobras e lacraus, seres bons, perversos e maus, elementos de borrasca. E o povo que escutou, que viu ou só ouviu contar, ficou à rasca. Nada há melhor para gerar mudança que um bom susto em qualquer corpo e nem precisa ser criança para aiar pesados medos, cadeias, degredos e demais sórdidas coisas, clamou o bruxo antes de ser empurrado para o abismo onde morava. Caiu o assustador no medo, no fim do mais fundo degredo, no lugar onde quem entra só emerge como carne rilhada, exangue, viva apenas por desfastio de quem pode ser mau em pleno. E sabeis quem veio para dizer? Quem, normal por não ser mágico nem bruxo, veio para contar suavidades? Exato, eu mesmo, o que aqui vedes. Mas não vou dizê-las por banais. Se dissesse caia-me um braço, um embaraço, uma lâmina de cortar porque seria mentira. Nenhuma verdade, garanto, é apenas de seda.