ADRENALINA.

Cada um tem uma adrenalina que sacode a nossa biologia. Vi recentemente homens-pássaros, um desafio impressionante, quase um suicídio, coragem para pouquíssimos, em documentário de uma hora em canal de assinatura.

Traz a história do desenvolvimento desse esporte que entendo não ser esporte, mas desafio à morte. Falam com clareza que sabem que qualquer deslize é fatal. Passam raspando por paredões e árvores. E confessam, não podem viver sem sentirem essa sensação. E são contados a dedo os que hoje voam com essas roupas como se fossem morcegos, e a maioria morreu.

E continuam, entre eles somente uma mulher americana que declara ir direto para a Europa se tem férias, mesmo de uma semana, pois somente lá podem descer voando de grandes alturas, paredões de granito. Realmente, lá estão as grandes alturas, como no Eiger na Suiça, junto a um dos lugares mais bonitos do mundo, Grindwald. Quem vai não tem vontade de voltar desse lugar de sonho. Lá muitos esportes ligados aos voos são vistos, inclusive as asas deltas e parapentes que se lançam ao vazio de montes nevados. Parapente é gosto de um de meus genros que cansou de me convidar para sair da Pedra Bonita em São Conrado, Rio, estivemos lá domingo, voo duplo em que é muito experiente. Saiu no tabloide do Globo, Barra da Tijuca, na capa, nessa condição.

Quando me chama para participar de voo duplo, só respondo que não ando pendurado em cafifa, não gosto de turbulência nem em avião. Mas é bonito de ver a saída e as velas coloridas enfunadas em uma das vistas mais bonitas do Brasil. Bonito demais.

Em escala milhões de vezes menos arriscada, incomparável, posso entender o que dizem esses “loucos”. Lembro de minha juventude onde na Barra da Tijuca, deserta praticamente, em circuito fechado, a famosa Macumba, soltava-se a adrenalina em cima das motos que gargarejavam sons maravilhosos, com seus funis de bronze da mesma dimensão dos canecos.

Hoje se digo que vou comprar uma Hayabusa, só para ouvir o seu ronco levemente, sem abusos, o freio sem “pastihas” de minha mulher funciona na hora. "Nem pensar..."diz, embora tenha andado comigo, bastante, na última "sete-galo" que tive, poderosa.

Mas não dá para andar mais em corredores desse trânsito maldito onde brota carro de todos os lados. Resta pouco para distrair com motores.

Pensar eu penso e as vezes quase enfrento esse poderoso freio, especiais como os de pastilhas de cerâmica..

Me resta somente quando o trânsito na estrada deixa, ou em curtos trajetos, abrir o vidro do meu quatro rodas para esse fim, e pouco uso, pisar no “kick down”, e ouvir o som divino e o uivo do turbo deflagrado, chicoteando o pescoço e a cabeça e fazendo o coração disparar. Sai pouco da garagem.

Posso entender os homens-pássaros, felizmente em dimensão humana....ainda bem que minha filha andou só duas vezes de parapente, e não gostou.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 17/07/2018
Reeditado em 17/07/2018
Código do texto: T6392345
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.