ABENÇOADOS.

Poder ver o sol, penetrar em árvores seculares que abrem seus braços centenários nos parques que formam o berço onde nascemos, árvores de nossa infância, abraçá-las, beijá-las, como devemos fazer, em gesto de loucura sã. Cada círculo de seu cerne, que é o interior de sua vida, a exemplo das nossas, é sua alma, como crê São Tomás de Aquino que a tenha o mundo vegetal, lugar onde são contados no durâmen seus anos de existência, vivida com o alimento que sobe perifericamente, sugado do húmus da terra através de raízes, como as nossas que se transformam também em árvores na caminhada da matéria, são como soluços de nossa passagem efêmera e rica por poder estar com elas, abençoadamente, e explodem em frutos e flores.

Somos abençoados, todos que podem viver independentes, em qualquer idade, ter filhos e netos, rodar pelo mundo, sair e assumir sua vida, em paz, dentro de seus limites e do que construiu com seu esforço, o necessário para a dignidade, seja muito ou pouco, dependente só do carinho de seus entes queridos, amados, não desprezados, lembrados nas festas, ternamente presenteados com uma lembrança, que seja um cartão que sinaliza a admiração e uma frase que manifesta amor.

Ser abençoado é ter alegria, não ter depressão que vem da alma, nascida do pecado de consciência, que aniquila nossas existências, que faz a prisão de nossos braços e pernas entre quatro paredes, que fecha janelas para a luz, que não deixa nosso corpo descobrir com os olhos o que acontece nas ruas, nas serras, nos campos, nos mares, no mundo, nas grandes cidades, onde pulsa a arte e a criatividade, a vida que olha para seu interior, que respeita os outros na medida em que é respeitado, tem brio e sinceridade para tratar os diversos temas e posições que se definem sob seus olhos e crivo onde se estabelece a sinceridade com o que pensa e descortina, que compreende e tem humildade para caminhar entre fragilidades e fortalezas.

Que estende as mãos a todos, que desconhece o desamor, que vaga limpo entre as agruras do mundo e tece em poucas palavras o muito que represa em sentimento.

Ser abençoado é acreditar na verdade do que somos, sem pretensão de chegar ao impossível, negando a evidência, subtraindo a vontade de ser como nos quis a natureza.

Ser abençoado é amar, trabalhar, ter sua sobrevivência garantida por seus dons e seu esforço, não pelo trabalho dos outros, nem que seja dos pais.

Ser abençoado é não ter um caráter áspero e rude no abandono de seus entes queridos, cultivando preconceitos negativos, afogando em vícios uma vontade rasteira e cinzenta que nega tudo a todos e inclusive a si mesmo pelo hediondo costume da avareza, com rastros por vezes perpetrados vida afora na intimidade contra entes queridos, indiferença, egoísmo, falta de carinho e solidariedade.

Abençoados sejam os Filhos de David que reconhecem a sucessão do maior Ser que pisou nesse Planeta, Jesus de Nazaré.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 17/07/2018
Reeditado em 17/07/2018
Código do texto: T6392329
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