O Homem que Chorava
Era um dia comum. Mas eu estava inquieto.
Foi quando vi uma Igreja com as portas abertas,
Como a me convidar para um encontro com Deus.
Entrei, sentei-me num banco e tentei rezar.
Foi tudo em vão. Meus pensamentos iam e voltavam,
Com mil preocupações não deixando espaço para a oração.
Foi quando me dei conta que, no mesmo banco,
Um homem chorava, silenciosamente,
As lágrimas correndo de seus olhos,
Banhando seu rosto, enquanto fixavam a cruz sobre o altar.
Ele expressava uma angústia extrema, talvez, pensei eu,
Por um grande problema que vivia, sem solução.
Ali estava eu sem conseguir orar,
Enquanto o homem chorava, diante da Cruz,
Com a mente longe deste mundo, alheio a tudo a sua volta.
Tomei coragem e lhe perguntei:
- Amigo, você está passando mal? Posso lhe ajudar?
Como que saindo de um sonho, olhou para mim,
Tirou um lenço do bolso, enxugou os olhos e disse:
- Minha saúde física está boa. Mas minha alma está angustiada.
É que percebi, de repente, como são pequenos os meus problemas,
Diante da imensidão das dores que afligem aos que estão a minha volta.
E então veio essa sensação de impotência,
Saber que pouco ou nada posso fazer,
Que não tenho meios ou recursos para ajudar aos que precisam.
Ouvi pessoas dizendo que não sabem o que, ou se vão comer hoje;
Outros sem dinheiro para pagar as passagens em busca de emprego;
Tantos sem um teto para abrigar a família;
E são muitos doentes e desempregados;
Multidões de jovens sem estudo e sem esperança;
Tantos olhares famintos e humilhados,
Tantas lamentações e gritos de revolta.
E uma boa parcela dessas pessoas está à minha volta.
Ajudo alguns, não sei como ajudar a outros,
Desespero-me, pois as necessidades humanas não podem esperar,
E o Estado organizado, falido, inerte diante do caos.
Sentei-me aqui neste banco, desolado, quando fixei meu olhar na Cruz.
E me veio à mente, então, que Ele passou uma noite de angústia,
E que verteu lágrimas e suor de sangue,
Por ver em sua onisciência, todo o mal pelos séculos a fora.
Era tanta a dor que pediu ao Pai que o livrasse do cálice da amargura.
E vi que Ele sofreu pelos mesmos motivos que agora sofro.
O que fazer, meu amigo,
Se os homens não se sentem responsáveis uns pelos outros?
Então se calou, as lágrimas ainda correndo,
E pude ver nele o Cristo em agonia no Jardim das Oliveiras.
Finalmente consegui rezar
E prometi, em minhas orações,
Fazer a minha parte, como aquele homem que chorava,
E depositar, como ele, tudo o mais aos pés da Cruz.