Mulheres dos anos dourados

     1. Mergulhei de cara em "História das mulheres no Brasil", um livro muito atraente em todas suas seiscentas e setenta e oito páginas. 
     2. Ele foi organizado pela excelente historiadora Mary Del Priore, dona de respeitável obra literária.
     É dela, por exemplo, "História do amor no Brasil", "História das crianças no Brasil", "Histórias e conversas de mulher", e, em três volumes, "História da gente brasileira".
     3. Mary Del Priore não organizou "História das mulheres no Brasil"sozinha. Contou com a ajuda, como coordenadora de textos, da também historiadora Carla Bassanezi Pinsky, a quem coube escrever o capítulo "Mulheres dos anos dourados" .
     4. Este tema me chamou a atenção, talvez mais do que os demais abordados no formidável livro, por uma razão muito simples: não é que eu vivi intensamente o que se convencionou chamar de "anos dourados"!
      5. Dourados, assim considerados, os anos 1950. Nesse período, aconteceram coisas interessantíssimas; muitas minuciosamente registradas no capítulo confiado à escritora Carla Bassanezi Pinsky.
     6. São textos ricos, eruditos e extensos.      Confesso que não tenho competência para sintetizá-los e pô-los numa simples crônica.      Passo por alguns  deles e os divulgo como incentivo àqueles que por este assunto sintam-se atraídos. Vale a pena. 
     7. A escritora Carla B. Pinisk escreve, que, nesse período, "A mulher ideal era definida a partir dos papéis femininos tradicionais  - ocupações domésticas e o cuidado dos filhos e do marido - e das características próprias da feminilidade , como instinto materno, pureza, resignação e doçura...".
     8. E segue a escritora: "na ideologia dos Anos Dourados, maternidade, casamento e dedicação ao lar faziam parte da essência feminina".
     9. E a virgindade? A virgindade "era vista como um selo de garantia da honra e pureza feminina". Para um velho professor meu de Medicina Legal, vivia-se a era da himenolatria.
     10. As revistas da época - "Jornal das moças", "Vida doméstica", "Querida" e outras -, frisa a doutora Carla, "classificavam as jovens em moças de família  e moças levianas"; estas as sem selo de garantia?
     11. Pegava mal, prejudicando-a nos seus planos casamenteiros, a "garota fácil", que permitia "beijos ousados, abraços intensos e outras formas de manifestar a sexualidade".
      12. Mais: "O namoro era considerado uma etapa preparatória para o noivado e o casamento". Por isso, "um namoro ou um noivado muito longo não era favorável à reputação de uma moça que se tornava alvo de fofocas maldosas". 
     13. A escritora de "Mulheres dos anos dourados" fala também sobre as mulheres ousadas, que fugiam das normas consagradas.
     "A vontade e a coragem de transgredir iam de fumar, ler coisas proibidas, explorar a sensualidade das roupas e penteados, investir no futuro profissional, discordar dos pais,  contestar secreta ou abertamente a moral sexual, chegando a abrir mão da virgindade - e, por vezes, do casamento - para viver prazeres eróticos muito além dos limites definidos". 
     14. "História das mulheres no Brasil" não pode deixar de ser lido. Sua leitura dá ao leitor um completo, detalhado, sincero e confiável retrato da mulher nos "Anos Dourados", que, como disse, vi de perto. E ainda lhe ajuda a  fazer uma comparação entre as jovens mulheres dos anos 1950 e as mulheres jovens dos anos 2000. OH! Como são diferentes!
     15. E para terminar, anotem esta: "Eram raros os homens que admitiam sem problemas a ideia de se casarem com uma moça deflorada por outro". Olha, vigorasse esse costume nos dias de hoje e muita gente ficaria no caritó... e para sempre.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 14/07/2018
Reeditado em 23/11/2018
Código do texto: T6390196
Classificação de conteúdo: seguro