Não siga seu coração!

Outrora – diziam os adágios, o senso comum –, e atualmente os mitos culturais pop da Nova Era: Siga seu coração! Mas eu vos alerto, não façam tamanha loucura, uma besteira, e uma enorme atrocidade. Não se joguem de cabeça para testar sua coragem; a possibilidade de tudo dar errado é latente. Não se trata de moralidade, mas a maioria dos adultérios, dos divórcios, dos abandonos, e dos abortos, segue esse coração alado.

O coração é só um músculo que bombeia nosso sangue, e não o norte magnético. Nada mais do que isso. E hoje já podemos viver com um coração artificial. Quem ouve tais barbaridades, dá ouvidos a cabala, ao horóscopo, as runas, aos oráculos, a cartomancia, a quiromancia, ao tarô, aos búzios, ao ouija, ao Urim e Tumim, e tudo quanto é doentio, ignorante, e esquizofrênico.

O coração é solitário e egoísta, enxerga o belo, e não o bom. Prefere o poder ante o conhecimento, espreita o glamour e odeia a humildade. A “mente” do coração é a de um psicopata dissimulado que quer te ludibriar, ele não quer o seu melhor, quem diz isso para você quer na verdade ver o circo pegar fogo, quer ver você se ferrar e depois te ver com cara de Madalena arrependida.

As coisas não são tão simples quanto imaginamos. Tudo nessa vida tem um preço, uma renúncia, e muitas consequências. Para cada ação, uma reação. Quem segue seu coração por intuição, precisa ser medicado, analisado, e interditado; se para seguir o coração tem que se abandonar um filho, sair de um trabalho estável, ou viver ilegalmente em outro país, a felicidade torna-se uma tragédia.

Você se machucando, vai comprar livros de autoajuda, irá viajar parra esquecer a frustração, trocará de carro para ter um novo prazer, gastará horrores com estética para se sentir mais bonita (o), entrará numa academia, fará dietas malucas, vai comprar roupas novas. Sua cabeçada movimentará a economia do planeta e salvará os Natais. E assim, pagaremos o dízimo para tentar uma superação espiritual, com promessas para tantos santos.

Todas as pessoas nos decepcionarão um dia, e pessoas confusas, instáveis, e ansiosas, que teve referências familiares caóticas, estranhas, problemáticas, são candidatas a fazerem escolhas amorosas ruins. A pessoa é induzida a creditar num romantismo passional, onde busca uma felicidade, que nunca existiu e nunca existirá. Quem diz: eu quero ser feliz. É muito ingênuo. Felicidade não existe! Nem no Supermercado, nem no Mercado Livre.

Às vezes a felicidade de uma “Madame” é um baixinho que vive no sertão. E a de um dentista, uma franzina que está exilada numa favela. Mas o dentista fica com a madame e o baixinho com a franzina. O dentista e a senhora ostentam a felicidade, mas passam longe. Talvez o baixinho e a franzina acabem se encontrando, e sejam felizes, mas se eles se encontrarem, e se casarem, tenham a certeza: Não seguiram seus corações! Eles sonhavam com os outros.

Os Sapiens são cegos funcionais. Cabeçudos. Eles mesmos enfiam na cabeça que desejam isso e aquilo. Esquecem que o desejo é a causa da infelicidade e do sofrimento, assim dizia Buda. E toda euforia, e epifania, nada mais são do que modas, modinhas, ladainhas cafonas de autoajuda. Conhecer a si mesmo, seus limites, se colocar-se diante do espelho, eis uma conquista real, definitiva. O coração precisa ser conduzido e não seguido.

Em vez de se seguir o coração, seria melhor “abrir a cabeça”, estudar um assunto, pesquisar as consequências de um ato, ter parâmetros, exemplos de sucesso ou fracasso. É preciso ler em "acordão" e escutar depoimentos de pessoas que passaram pelo mesmo problema. Se vamos seguir algo ou alguma coisa, sigamos nossa convicção, mas sem paixão. Estudemos para sermos autossuficientes, autodidatas, autômatos, e nos livrarmos da frustração de dependência.

Nesse mundo ninguém é bonzinho, nem santo. O cemitério está cheio de corajosos e de pessoas com boas intenções, assim diz o ditado. Jovens, mortos prematuramente –, se não for uma redundância. Se vamos seguir alguém: Alto lá Cara Pálida! Qualquer dependência já é um suicídio garantido. Embora todos dependam do coração, que seria de nós se nossos intestinos parassem de funcionar?

WAGNER FERREIRA
Enviado por WAGNER FERREIRA em 14/07/2018
Reeditado em 19/07/2018
Código do texto: T6390040
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