A ESTANTE
Croniquinha de mudança:
Na estante branca, em lugar nobre, estão as melhores lembranças. Livros consagrados, que me levaram às viagens do conhecimento, cartões de amigos com votos de felicidades, plaquinhas com nomes dos pais, hoje nomes de ruas. As castanholas trazidas da juventude da vovó, presente flamenco daquela pequena grande mulher.
O leque espanhol, presente da sobrinha, os leques de outros países,outros presentes.
A lupa auxiliar da miopia, os antigos óculos (parceiros de tantas miradas saudosas). Álbuns das melhores fotografias da família, o marcador de páginas que amiga trouxe do exterior.
Livros presenteados por amigos e familiares, bilhetes da época de namoro, caixa de baralhos para o truco repentino, a última bolsa de minha mãe preenchida de lembranças, os monóculos da minha cidadezinha, porta-retratos de gente amada, as taças para os brindes mais importantes, o presente de casamento.
Discos de vinil, doces embalos juvenis.
Aquele jogo de jantar de porcelana, presente da mãe, as toalhas de mesa vindas de longe.
Os vídeos das peças teatrais de meus alunos, lembrando felizes aulas. Grandes revistas de literatura, livros presenteados aos filhos ainda repousam aqui, vários exemplares da Bíblia e orações.
O duende de barro e feltro, que minha amiga me trouxe.
Ali, também, alguns exames médicos importantes, para que não me esqueça de quanto Deus é bom.
Dirão alguns que a estante é grande, não nego, ela é. Porém, maiores que ela são as lembranças de lugares e momentos felizes. Vejo, então, que meus maiores tesouros estão nesta estante.
Elas (as lembranças) todas hoje empacoto e as levo comigo ali, para o outro lugar, com nova estante.
Há espaço, onde nova prateleira será aberta.
Dalva Molina Mansano.
25.06.2018