MULHERES QUE AMAM DEMAIS

MULHERES QUE AMAM DEMAIS

Cada dia que me deparo com rodinhas de mulheres eu me assombro com o confessado ali na mesa do segredo.

É isso mesmo, uma confissão. Ouço o desabafo delas com mais pesar do que alegria ou satisfação por estarem em um relacionamento.

Todas estão sempre reclamando do parceiro, seu olhar molhado a perigo de qualquer hora cair uma lágrima, a voz embargada de tristeza e remorso.

Já ouvi de tudo. Nada mais me impressiona.

Mas passado algumas horas lá estão elas, servindo-os, amando-os, gastando sua energia em mudar o outro, com ciúmes patológico, super atenciosas se declarando para eles com um sorriso falso como o de uma máscara de carnaval. Elas são sequestradas pelo próprio ego.

Porque reclamam e estão ali, na servidão voluntária?

São as mulheres que eu chamo de "mulheres que amam demais".

Esse pequeno grupo que eu conheci bem de perto, pessoalmente viu! Tem amor para os parceiros o suficiente até para se sentirem desejadas e amadas. Não é necessário que o seu homem demonstre sentimento ou se quer tenham dúvidas que o relacionamento vá acabar.

São pessoas que aceitam apanhar, aceitam passar fome, vergonha, e todo o tipo de abuso, físico, moral e psicológico. Vale lembrar que para essas mulheres o simples fato do parceiro a deixar lhe causa desespero, insegurança, somente seu amor basta, por eles elas matam e morrem, em sua maioria, morrem.

Eu queria ser apresentada a esse amor, e poder explicar pra vocês que amor é esse que só traz sofrimento.

Simples, não é amor.

Lembro-me de Romeu e Julieta, por muito tempo achei que o amor deles era o amor ideal, o que é uma ideia perigosa esse conceito de que precisamos de um amor para sobreviver que se não tivermos a pessoa amada ao lado a vida não vale a pena.

É uma história de ordem política e obediência aos pais, é só lê-la e toda a fantasia se desfaz.

Se apaixonam num domingo, casam-se na segunda, transam uma única vez numa terça e morrem numa quinta. O amor ideal dura quatro dias e uma transa?

Ouvindo músicas essa semana, com letras românticas que condiziam mais com lamentação só se falava da perda de um amor que tudo suporta. Alguns samba, pagode, sertanejo, e por fim um dos gêneros que mais me chamou atenção; o Blues, que pra mim tem a melhor instrumental e arranjo, porém o mais triste e platônico.

Esse amor romântico jovem iniciou-se ali no século 18 e difundido pelo literatura vem crescendo e se tornando mais letal...passional.

Conversando com um amigo sobre esse tema ele me perguntou se já amei de verdade, pois na sua cabeça machista se a mulher tem casa, comida e um marido ela tem tudo podendo assim superar qualquer impasse em casa. Tamanha foi a sua face atônita quando lhe respondi: "Já amei sim, mas sempre me amei mais".

Desejo a essas mulheres que amam demais, que não se sujeitem a nenhum abuso, que tenham amor próprio, porque ele as ajudará a fazer melhores escolhas, terão mais confiança, sem medo de ficarem sozinhas e sem culpa.

O caminho é longo. Por enquanto eu aprendo com elas e torço que a mudança chegue ainda nessa vida.

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 12/07/2018
Reeditado em 12/07/2018
Código do texto: T6388009
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