O CASARÃO

Da  série:
Diário  de  minhas  andanças


Então as vozes silenciaram-se um dia.
As janelas  que espiam distâncias, choram aos ventos suas soledades.Pra não morrer de tédio, grilos e 
ratazanas  firmaram um pacto.Na escuridão dos aposentos que ainda cheiram a almíscar,  elas, as ratazanas, põem-se em angustiante espera.
Vez  e  outra, asas ofegantes de abelhas inquietas adentram  trazendo nos zumbidos,fuchicos do mundo lá de fora,onde vagueam alguns passos , alguns poucos rumores, um mundo encantado de cheiros e nectares.
Um piano triste na sala ampla,sonha dedos que o afaguem enquanto aranhas bordadeiras ensaiam passos delicados de um balé entre uma renda e outra. De quando em quando, a menina de tranças, pálida qual suas bonecas de porcelana,lança um olhar melancólico 
ao caramanchão .
Depois esvai-se ao plano das imagens  ilusórias,ao mundo dos  invisíveis ao qual agora  pertence.
À  quem lhe viu ou lhe  vê, resta  o  arrepio do  sobrenatural
Glicínias teimosas,abanam-se em  cheirosos cachos na tarde quieta.
Uma janela sacode-se num ruído sinistro, cachorros latem ao longe e  a magia de um castelo perdido na imensidão verde do arvoredo resiste  ao  tempo, a urzes e parasitas.
Joel Gomes Teixeira

Fotos:Casarão do  IAPAR . Localizado no interior de  Irati,foi tombado  pelo  patrimônio público.Pertenceu  a  uma abastada  família de madeireiros no  século XIX.
Sofisticado  e cheio de  histórias (inclusive  a  aparição da  menina na  janela) é instigante  e  atrai muitos visitantes.Atualmente não mais  é permitida a visita  ao seu interior,onde luxo e  beleza dão o tom  aos aposentos.Sua  história completa  está no google.Basta pesquisar em "Casarão do IAPAR".


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https://www.youtube.com/watch?v=aR8uhDt0YOM