Saudade particular que carrego no peito

Cada pessoa tem uma saudade que bate no peito.

A vontade de hoje é de ligar para minha mãe e dizer "Mãe, Tô com tanta saudade!", mas não posso fazer, porque sabendo como ela é, o fato de eu estar doente e não aguentar o choro, eu só colocaria um monte de preocupações na cabeça dela. Já basta as que ela tem.

A vontade é de estar lá, acordar cedo e tomar aquele café que só ela sabe fazer, de ter aqueles nossos papos da tarde, de reclama com o povo pra fazerem silêncio porque ela tem que descansar depois de um dia de trabalho.

Saudade também de ouvir o barulho da moto do pai, que quase não consegue mais subir o morro, a coitada, em pleno sol do meio-dia. Queria abraçar ele quando ele abrisse o portão e me gritasse pra separar o feijão que ele trouxe da roça. Por mais que na hora na minha cabeça eu pense "Porque ele não chama outro", hoje eu entendo que é a forma que ele encontra pra demonstrar que eu sou da família. É a forma dele minimizar que depois de alguns dias eu não estarei mais ali.

Vontade muita de pegar meus sobrinhos e passar o dia rolando no chão, de jogar eles pra cima, de colocar música e ver eles dançando e dançar junto também. Saudade daquele sorriso gostoso que fissura o tempo e faz acreditar que ali é um momento único, que não mais acabará.

Saudade da roda de conversa da noite, quando todo mundo senta nos sofás, com a desculpa de tomar café e começamos a rir de coisas do passado. Saudade até do dia que eu fiz uma progressiva no cabelo e quando eu cheguei em casa meus irmãos e irmãs rolaram de rir (sim, não ficou legal. Hoje eu reconheço) e eu com o choro entalado. A mãe querendo me consolar, passando a mão no cabelo, disse "Não manga do meu filho não. O cabelo dele Tá tão bonito". Hoje eu sei que era só proteção dela.

Saudade de levar minhas irmãs pro quintal e ir brincar de fazer comida com barro, a brincadeira que tomou nossas tardes. Hoje sei o significado que elas tinham. Embora nem sempre terminasse de forma boa, porque quando a mãe chegava e via nós sujos de lama, as colheres, pratos e bacias dela também sujas de barro, não dava em coisa boa não. Mas há sim saudade.

Saudade até do meu irmão, que embora nós não sejamos pessoas que conversem muito entre si, e tenha viagens que paira aquele silêncio sepulcral, mas eu sei que tem amor ali.

É, pra hoje tem saudade. Não que não tenha nos outros dias, mas hoje ela bateu mais forte.

Hoje ela veio e muito cedo.

Veio e fica guardadinha aqui, causando um aperto e querendo escorrer pelos olhos.

Hoje só queria estar lá.

São os preços que pagamos por algumas conquistas e quando se é canceriano eles multiplicam.

Paz!