TUMOR NA PRÓSTATA

Hoje, depois de umas série de exames de sangue, uma ressonância magnética inconclusiva e uma biópsia certeira como um chute do Felipe Coutinho descobri que estou com uma neoplasia na próstata.

Foi um baque. Tive a sensação de quem leva um soco na cara e perde o prumo. Percebi que não sou imortal. Que junto de toda a humanidade eu também estou incluído no grupo dos que morrem.

Meus pensamentos começaram a girar feito um pião, perdi o chão envolvido numa espécie de medo e sensação de fracasso, de que, de alguma forma, eu havia perdido a batalha. Como se tivesse sido atingido por uma bala perdida que eu não sabia de onde ela tinha vindo, ou como se numa guerra, no auge de minhas forças eu tivesse levado um tiro que limitaria minha expectativa do futuro.

Pela primeira vez na vida eu fiquei frente a frente com a dura realidade de que eu tinha um sério motivo para morrer.

A morte, está ilustre desconhecida, insensível e desumana, aproximou-se de mim de uma maneira rápida e direta. Impiedosa como é de seu feitio me fazendo lembrar que também sou formado por um corpo repleto de células perecíveis que se renovam ininterruptamente numa extraordinária vontade de viver, mas que vez por outra, sem mais nem porque, transformam-se em silenciosas e minúsculas inimigas.

Nos primeiros momentos pensei como nossa vida é frágil. Veio-me uma confusão mental assustadora. Observava as pessoas na rua imaginando quantos daqueles que passavam por mim poderiam estar com a mesma doença que eu tinha? Olhei para o homem que vendia livros próximo ao meu trabalho e imaginei que talvez ele, distraído e sorridente, com semblante feliz, teria também, escondido em seu corpo o mesmo mal que fixou-se no meu.

E o rapaz da verdureira? Será que não estava acometido pelo mesmo infortúnio? Quem sabe nele não se manifestava silenciosa e sorrateira a mesma desdita que me pegou de surpresa, mas por não fazer os mesmos exames que eu fiz não sabia que tinha e vivia feliz.

Fiz uma reflexão da vida. Rápidos flashes passaram-se aos meus olhos, como se estivesse à frente de uma tela de cinema revendo os momentos mais importantes que vivi. Lembrei da família, dos amigos, daqueles que me são caros.

Fiquei triste, não pela morte em si, visto que tenho uma concepção bastante resolvida sobre ela, não é algo que me traga medo ou receio. Fiquei triste pela possibilidade de ter que deixar aqueles que me amam e que eu amo também. Triste por não poder mais compartilhar dos momentos agradáveis com eles, justo agora que estavam se tornando cada vez mais frequentes. Triste pela mágoa que causaria, posto que a ausência sempre deixa saudades naqueles que ficam.

Mas a força que existe em mim é maior e aos poucos fui me acostumando com a ideia. Ora bolas! Porque somente aos outros era permitido passarem pelo sofrimento do suplício e a angustia da incerteza? Que superioridade divina haveria de ser me dada que me blindava de tais provas? O que de valor, acima dos demais, eu carregava que me impediria de passar por aquilo que até então é natural a qualquer um?

Não meus amigos, a pergunta que comecei a fazer não era mais o porquê de estar acontecendo justamente comigo? Ao invés desta interrogativa egoísta e presunçosa eu emendava com a resposta: Porque não poderia ser comigo? Que méritos teria eu para ficar de fora do círculo das provas que estamos fadados a passar?

Sim meus amigos, eu entendi que todos somos iguais perante Deus, seja lá o que você entenda por Deus, que todos temos as mesmas regras a seguir e que elas sempre têm por objetivo nos convidar à mudança.

Que os males que acometem nosso corpo sejam encarados como lições que por sermos alunos indisciplinados e desobediente, em alguma época de nossas vidas tenhamos desdenhado do esforço e dedicação necessários para aprende-las quando a lição nos foi dado com amor e paciência, e hoje, hoje pela força da lei do retorno, ela volta através da dor e do sofrimento que como todos sabemos é sempre a maneira mais rápida e eficaz para provocar as modificações necessárias ao nosso desenvolvimento.

Não choro mais. Não me causa mais indignação nem revolta. Hoje eu entendo que eu deveria passar por isso e que sairei fortalecido desta, possuidor de uma bagagem de transformação e mudanças em minha alma que nunca antes havia ocorrido.

Deus está me dando um aviso. E eu estou sabendo escuta-lo e aos poucos vou entendendo o que ele quer me dizer. Eu faço parte da humanidade com seus males suas aflições e angustias, mas também com suas felicidades e alegrias.

Do muito que recebi em toda a minha vida, e as alegrias em cada momento difícil porque passei me fizeram ser o homem que sou. Hoje ele me dá, talvez o maior dos desafios que jamais tive, mas junto me deu a força e a resignação suficiente para enfrentá-lo.

Não importa o que possa acontecer daqui para a frente. . .

Já me sinto um vencedor.