incenso

Pois é, sei que há crença para tudo, e sei que tolerância e intolerância que nem se dá pelo fato de se crer, mas, pelo modo que as pessoas se relacionam entre a crença e objeto do credo proposto.

Esse fato deu-se lá pelos anos de 1997, eu e minha esposa, acabávamos de alugar uma casa, era a terceira mudança que fazíamos, e estávamos afoitos por aquela mudança. A nova casa era maravilhosa, tinha um ar de paz e muito clara, não era uma mansão, muito pelo contrário, era pequena, e bastante singela. A necessidade financeira exigirá que mudássemos ali. Estávamos felizes, e nossa rotina já estava quase perfeita. Mas aquele ditado de que nem tudo que é bom dura muito, estava pronto para cumprir naquela nossa intima relação entre espaço e inquilino. A casa era murada, e os muros exagerados, nunca nos preocupamos com a altura daquela masmorra, entretanto estava lá, e tínhamos um certo conforto com aquela muralha chinesa. Logo que notamos aquele exagero, bateu-nos a curiosidade de o porquê aquilo tudo para uma casa tão simples, então, começamos a observarmos aquele muro de Berlim. Não é que começamos a notar gatos pretos caminhar sobre ele quase todos os dias, tinha até um gato deficiente, que até ficamos preocupados, pela altura do muro. entretanto os gatos não nos chamou atenção, mas sim as araras, e muito mais ainda as tartarugas, não me pergunte como uma tartaruga escalara dois metros e oitenta. juro! o bicho andava lá em cima numa segurança de que já estava acostumado. Era nesse ambiente mais esquisito que vivíamos . Meu marido era saxofonista, e nas horas de folga precisava treinar, tocar saxofone algumas horas por semana. Foi aí que a guerra de Troia começara. Quando começava a tocar, os gatos começavam a andar pelos muros e miar um miado triste. Logo ficamos com medo, e o saxi ficou mais distante. Passou uma semana sem tocar o instrumento, e observávamos que os animais também sumiam. Contudo, se começasse a assoprar, pronto, o zoológico estava lá em cima, naquele miado mais estranho. Foi quando meu marido resolveu não ligar para aquilo e começou a tocar, fazendo uma sinfonia; não é que os gatos sumiram! Tocou uma semana e meia sem plateia, a calma estava de volta, mas ficamos atento aos movimentos que se davam nesta nossa vizinha. Então, eu meu esposo combinamos que toda vez que ele tocasse, assoprasse bem baixinho, e utilizasse um quarto lá do outro lado da casa, de forma que não atrapalhasse a tal senhora que vivia ali. Sabíamos que era senhora, porquanto um dia espiando, vimos a dita cuja colocar o cágado sobre o muro, o bicho não nos assustava mais, mas aquelas unhas pretas, e aquela mão enrugada, isso sim dava-nos arrepios que incomodava até dormir. Buscamos amizade, era uma senhora até que legal, dava coisa para comermos, mas tudo tinha a aparência de uma maçã, e de uma maça linda, que não tínhamos coragem de comer. Eu e João Ricardo, meu esposo estávamos casados há 18 anos, não éramos pessoas que possuísse superstição, cheio de crendices ou crescemos no isotérico, entretanto, nenhum de nós queríamos morder a maçã por mais cheirosa e bela que fosse. Um fim de tarde, de sol bem calmo, já praticamente um crepúsculo, não é que ele pegou o saxofone e começou a tocar e não foi quinze minutos um cheiro horroroso, insuportável de talco, mas daquele talco mais vagabundo, mais repugnante, tomou conta de toda nossa casa, pensei em abri-la, foi quando percebi que o cheiro vinha de fora, então fechá-la, mesmo sabendo que o cheiro ficaria trancado ali dentro. O negócio foi parar de tocar sax. Saímos para ver de onde vinha aquele mal cheiro diabólico. Não e que o muro estava repleto de incenso, estavam defumando minha casa. Comecei a chorar e resolvemos dar uma pausa ao instrumento. Já quinze dias sem tocar uma nota que fosse, o seu Encrenca, foi tocar uma partituras, na hora que ele começou a tocar os incensos começaram a queimar. Bem, o muro também era meu, então resolvi apagar aquilo tudo, peguei um balde de água gelada, mirei bem e mandei, errei todos os incensos, a água passou por cima do muro e deu um banho na velha que sai gritando por socorro, que estava ensopada. Corri para dentro e fingi que nada tinha acontecido. Os incensos pararam houve trégua na guerra. nunca mais ouvi cheiro de incenso, apesar de exatamente 1 ano depois estarmos mudando para uma outra casa, agora, nossa casa própria, a qual também me traz boas recordações e muitas histórias a narrar.

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 07/07/2018
Reeditado em 07/07/2018
Código do texto: T6384121
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