Heróis vencidos

O maniqueísmo do futebol atinge o apogeu na derrota sofrida do time brasileiro contra os belgas hoje, dia 6 de julho de 2018. Nossas fantasias caem por terra. A simbologia empregada para sublimar nossos desastres sociais produz mais um sentimento amargo: não é possível contar com mais com tais artifícios. Artifícios que avistamos nos estádios inacabados do antepenúltimo fracasso esportivo. Quantas escolas poderiam ter sido construídas? Quantos hospitais!

A ruína econômica nacional preconizada pelos estádios devorados pela corrupção ainda da copa anterior quando fomos consumidos por sete a um pela Alemanha, se adensa, se consubstancia em busca de sublimação infantil e chorosa. Nossos lindos corações se debulham na derrota de hoje.

Mas nossa civilização continental experimenta o fracasso maior quando deixa de compreender que tamanho é documento! Que a compleição física de um povo bem alimentado acaba por vencer o subdesenvolvimento, a desnutrição e a pequenez de nossas escolhas.

Quanto teria custado em dinheiro a Seleção Brasileira na Rússia? Os milionários da bola sublimam a carestia, a fome e a miséria nacional. Sublimam a derrota pública das grandes jogadas da corrupção político-partidária empresarial e suja que nos avilta. Sublima a falta de governos reais e de uma educação que padece junto ao povo sofrido, explorado, ignominiosamente desvalido em proporções científicas de ulcerações e descasos. O futebol tem sido um gigantesco teatro do absurdo ebtre lágrimas inocentes de uma gente ingênua e boa.

É preciso superar o maniqueísmo sem teto da dramaturgia de chuteiras. Tão afeita a mesmice dos lances e resultados repetidos de vitórias e derrotas. Essa sentimentalidade que cobre a realidade terá um novo desiderato: eleições presidenciais que começam exatamente quando inícia o fim da grande torcida longe de casa e trazida para dentro dos corações pelos grandes exploradores da ilusão. O povo chora sem vencimentos... O time perde miliardáriamente.