QUEM MATOU AGENOR ?

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Ela abriu os olhos e percebeu que ele a estava fitando diretamente. Parecia que nos olhos dele ela podia ler belíssimos sonhos ali escritos. Coisas realmente belas, em um colorido de arco-íris. Era meigo, cativante, cheio de ternura aquele olhar. Ela estremeceu de contentamento.

Ao se sentir descoberto ele não vacilou, nem mesmo piscou. Fez foi abrir um sorriso suave, algo entre divertido, cúmplice, apaixonado. Ele sabia que ela gostava do seu sorriso. Também p razer que sentia ao olhar para ela, assim tão de perto já era motivo suficiente par aquecer seu coração e radiar sua face.

Passaram-se vários segundos e ambos ali, se fitando, com sorrisos sinceros, puros e de quase inocência. O tempo parecia não contar para eles, mas a realidade fala diferente. Voltaram a si, isso é, ela voltou a si e o chamou à realidade, pois desconfiou que ficaram tempo demais naquele aposento. Atrás da porta, numa salinha de recepção, tinha uma secretária, que poderia até suspeitar da demora dessa sessão.

Estava confortável naquela cadeira que mais lhe parecia uma cama estreita. Respirou fundo e sentiu gosto de remédio em sua boca. O sabor era agradável e a coisa lhe proporcionava um frescor entre os dentes. Perguntou a ele o que lhe aplicara. -Uma composição de xilocaína. -Ele respondeu com sorriso e postura totalmente profissional.

-Vontade de beijar. -Disse ela. A frase foi interpretada por ele como uma ordem.

Ele se aproximou o máximo, enlaçou-a como pôde. Beijaram-se longa e apaixonadamente.

Aquela não era a primeira vez que os dois se arriscavam em trocar carícias naquele ambiente, naquele consultório. Parecia que ambos eram namorados de muitos anos, mas na verdade eles haviam se conhecido a cinqüenta dias apenas. Eram um profissional da odontologia (dentista) e uma dona de casa (paciente).

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Aparelhos apitando, compassadamente e fazendo tip... ...tip... ...tip. Enfermeiros e médicos suando, atuando com precisão para salvar aquela vida. Todo esforço parecia ser em vão , pois o veneno havia feito um grande estrago no interior daquele corpo. Sangue escorria da boca e dos ouvidos da vítima. A situação era realmente complicada. Ela dera entrada no hospital, naquela manhã, muito agitada. A equipe médica dava tudo de si, trabalhava com afinco, mas a realidade não lhes oferecia muita esperança de salvação para a paciente.

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O som estava alto e o ar cheirava a fumaça. Era assim todos os fins de semana naquela casa de fundos daquele bairro simples e sossegado. A vizinhança já estava acostumada. Todos sabiam que o inquilino daquela residência comemorava as suas folgas semanais com churrasco, cigarro e muita bebida. Era seu prazer, sua alegria e não faltava amigos para participar.

Geralmente ele tinha alguns convidados e sua esposa preparava iguarias deliciosas para o agrado de todos. Mesmo quando passavam um fim de semana sem amigos ou parentes, ele comemorava sozinho sua folga da semana. O repertório musical era basicamente dois estilos e quanto a autoria não tinha muita variação. Samba e romântica. Martinho da Vila e Dicró puxavam a sonzeira e o rei Roberto Carlos completava e finalizava. Assim, todos os Sábados e Domingos aquela família (que era pequena) e sua vizinhança mais próxima, engoliam aqueles eventos.

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Larissa estava, a despeito da perda, radiante. Até as suas amigas notaram uma certa mudança em seu comportamento. Mais alegre e mais divertida, ela fazia piadas e ria a valer, por quase tudo.

Casada ha oito anos e gozando de grande conforto, ela trazia sua casa impecável, sua filha de seis anos super bem vestida e cuidada.

A familia comia do bom e do melhor e ainda vestiam roupas de marca. O casal era relativamente jovem e a esposa era uma senhora bonita e vaidosa.

Era morena, boa altura, rosto bonito, corpo bem desenhado e tinha um olhar brando, tímido. Se dava bem com as pessoas e era muito educada, embora não parecesse inteligente.

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Agenor estava na empresa pela segunda década consecutiva, e tinha boa posição. Profissional de primeira classe e mui dedicado, os patrões e colegas de trabalho tinham por ele mui boa estima. Seu salário era alto e ele ainda trabalhava muitas horas extras, uma vez que a firma estava em evolução contratual e prestação de serviços para uma grande multinacional da industria pesada. A situação geral da famíla era a melhor possível.

Ele amava sua família e se dedicava a lhe dar o melhor . Nunca falava de religião nem freqüentava igreja alguma. Trabalhava, dormia e só saía com a família, muito raramente, para visitar os pais de ambos, no interior do Estado. No mais não era visto nem mesmo em locais de diversões. Pai dedicado e marido fiel. Tinha paixão pelo futebol mas só assistia as partidas e campoenatos através de tv.

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Larissa chorava e se defendia das acusações, enquanto o Agenor gritava e, de vêz em quando socava as portas e mobílias, além de quebrar alguns vasilhames da bela copa e cozinha. Parecia um touro desenfreado num rodoeio e seus olhos chamuscavam demonstrando ódio farto. A menina estava em choro, alvoroçada diante das ações e reações de seus pais. A coitadinha gritava e as vezes corria de um lado para o outro, sem nada entender e incapacitada de ajudar ou defender a mãe.

O senhorio tentou acalmar o seu inquilino exacerbado, sem no entanto lograr sucesso algum. Parecia que o Agenor estava possesso. Foi uma surpresa para o vizinho de frente (eram duas casas de fundos alugadas) testemunhar aquela briga calorosa em plena noite de Quinta feria.

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Após voltar da casa de seus pais, Larissa foi morar por uns dias com uma amiga solteirona, levando consigo a filha. Agenor ainda continuou sozinho em casa e passou a beber dobrado. Trocou os seu repertório romântico e de sambas pelo brega. Para os seus vizinhos era uma verdadeira agonia ouvir aquelas musicas.

Tudo o que a esposa queria era sua liberdade e partilha legal dos bens e pensão.

Tudo que o marido queria era sua esposa e filha, de volta ao lar. Mas nunca chegaram a um denominador comum. A separação foi inevitável.

Os papéis de divórcio na justiça (ele negou o divórcio a ela) e cada um ficou vivendo do seu lado, como podia. Raramente se viam e o diálogo entre eles foi morrendo cada vez um pouco mais. Ela tentou namorar e viver livre e abertamente com o seu amor. Novo amor. Seu dentista.

Ele (Agenor) não aceitou e o processo se prolongou nas gavetas da justiça. Da lei. E o tempo foi passando. E a amizade dos e tolerancia entre os dois morrendo.

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Os policiais isolaram a área, e os investigadores iniciaram suas metralhadas de perguntas. Mas, como sempre, ninguém viu exatamente nada, contudo, muitos deram seus palpites. O corpo foi removido para o Instituto Médico Legal e a família da vítima foi avisada por telefone. Agenor estava morto. Na verdade ela foi cruelmente assassinado. A policia foi acionada logo ao amanhecer para visitar e apurar uma denuncia sobre um possível roubo seguido de morte. Latrocínio. A viatura destinada não se fez por demorar, uma vez que naquele dia a cidade estava tranquila e já fazia meses não acontecia crimes violentos naquele município.

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Com a morte de Agenor as coisas se ajeitaram para Larissa. Ela recebeu uma gorda indenização. Recebeu os acertos da empresa e outros proventos que cabiam a seu falecido marido. Era uma bolada além do que ela esperava, mesmo sendo bem informada por seu advogado de antemão. Ficou surpresa e contente.

Com os dias se passando, tudo ficou diferente. Agora totalmente livre, ela então pode se casar com o seu dentista. Larisse viu o inicio de uma nova vida.....

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-Céus! -Disse uma enfermeira muito abalada.

-Doutor? -Tem sangue escorrendo dos olhos dela também.

Todos olharam para o rosto da mulher agonizante. Estava pálida, olhos arregalados e merejando pequenos filetes de sangue. A respiração dela estava fraca e sua voz quase se não se fazia ouvir mais.

Foi nesse momento que um movimento brusco da vítima chamou a atenção da equipe médica. A mulher fez uma careta, num enorme esforço para se sentar. Arregalou os olhos e fitou o médico. Parecia que estava a ver fantasmas. Dava medo a expressão do seu rosto.

Vomitou uma gosma amarelada misturada com sangue. Gritou.:

-Contem, contem para a polícia, pois ela pagou para matarem o Agenor. -A senhora dizia isso em altos brados e fitava as pessoas ao seu redor, arregalando seus olhos. A equipe médica imaginou se tratar de um delírio. Mas a velha com a voz bem lúcida prosseguiu.:

-Foi Larissa quem mandou matar e pagou para isso. -Ela me contou!

Dizendo isso o corpo caiu de volta à cama com um espasmo. O silencio tomou conta do ambiente. Médico e enfermeiros se olharam assustados.

A secretária de assessoria de imprensa do hospital chamou urgentemente a polícia para colher diretamente tal depoimento. Mas já era tarde. Muito tarde. Tudo acabado. A paciente entrou em óbto.

A morte tolheu aquela que fora testemunha, por confissão, de uma trama conjugal. Um crime passional.

A polícia atendeu o chamado e ouviu as testemunhas. O caso prosseguiu com a prisão imediata dos culpados. Dos pombinhos.

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( Acarlos )

( Pardon )
Enviado por ( Pardon ) em 04/07/2018
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