Socorra-me por favor.

Essa história que vou contar, foi fato, e não podia deixar de apresentá-la, principalmente àqueles moradores das cidadezinhas, daquelas lá no fim do mundo, com ruas sem movimento, sem ônibus, sem rodoviária. Onde a praça e a torre da igreja são os pontos de referências principais. Até pode parecer um exagero, mas não se deixe enganar, mesmo que você, leitor, resida nessa minúscula cidade, feche as portas e trave os portões e nunca de sopa para o azar. Você pode até achar que é utópico, mas não muito longe perceberá o quanto estou falando sério, apesar de hoje, já passados vinte anos, achar graças da cena que vem à memória.

Foi nossa primeira semana naquela pequena cidadezinha, a sudoeste do estado de São Paulo, extremo interior paulista. Eu e minha esposa tínhamos acabado de nos casar, e resolvemos morar naquela pequena cidade por simples questão de trabalho, ambos lecionávamos, e aquela cidade seria ideal para recém-casados e recém-formados. Assim, casa nova, tudo muito organizado, lembrava-me uma casa de boneca, cada coisa em seus mínimos detalhes, ocupavam seus específicos lugares. A casa era gigante, havia uma antessala e um lavabo, que nos interessarão mundo dizer sobre eles, ambos de frente para a rua; já, as demais partes da casa, sala de jantar, cozinha e quartos, não terão significado algum para nossa história, a não ser a que já está proposta, explicar alguns detalhes da casa, da primeira casa que nós, casalzinho novo, acabara de alugar. A frente da residência possuía um portão de ferro em grades de um metro de oitenta, uma garagem, e um jardim preenchendo o recuo daquela construção até o passeio.

Minha esposa, mulher do bem, e sempre enxergará a frente, enxergará coisas que para mim seriam absurdas, surreais. Eu, rapaz novo buscava acima de tudo ser prestativo, mesmo que me custassem alguns esforços extras. Foi nesse contexto que a coisa começou, eu estava a sair para lecionar, o relógio marcava sete horas, dei partida no carro, um Santana o qual não lembro o ano, certo é que fui abrir o portão que era manual. Quando uma mulher entrou de súbito na garagem, era um ser magricela, arcada, vestida de uma calça jeans, tinha umas manchar de sujeira pelo corpo, e tal personagem chorava, com a mão na coxa, dizia:

_ Senhor, por favor me ajude, fui atacada por um cachorro, ele me mordeu, mas consegui correr. Eu imediatamente corri para o portão, a procura do miserável, mas não o vi. Ela perguntou se eu tinha álcool para ela passar sobre a mordida, corri para dentro, chamei minha esposa que, ressabiada, saiu para atender a tal vítima. E sem malicia, dei sinal a minha companheira, para que permitisse a entrada da moça até o lavabo, afim de poder passar álcool sobre a mordedura da fera; uma vez que seria necessário baixar as calças para ser medicada. Pois é..., ela entrou no banheiro com o garrafão de C2H5OH e ficamos a esperar pelo lado de fora, passaram os minutos, mais..., e mais minutos. O grande entrave é que o lavabo só abria por dentro; começamos a chama-la: _ Moça..., Moça... _Senhora, _ Ei, senhora, por favor; começou a bater-nos o desespero, será que algo pior podia acontecer àquele ser raquítico, pois após meia hora, quase chamando a polícia, saiu aquele ET, cambaleando, com meu garrafão de álcool vazio. Aquela sinistra figura havia tomado meu álcool. Eu e minha esposa atemorizados, vimos o ser cambaleante pegar o caminho da rua, sumindo numa cômica imagem de cinema. Não sabia se ria ou resmungava, de olhos fechados com ar de seriedade. Minha esposa mal esperou eu sair e botou cadeado no portão, pois a partir daquele dia descobrimos que existe besta para tudo na vida e também aqueles que pagam de besta por confiar demasiadamente

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 04/07/2018
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T6381589
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