Craques mirins

     1. Bernardo, meu neto, é um craque. Joga futebol como gente grande. E só tem 12 anos. Faz gosto vê-lo recebendo aplausos como o goleador do seu time.
       2. Para não dizer que aqui fala um avô coruja, perguntem aos dirigentes do PSG, no Rio de Janeiro, onde o Bernardo mora e é matriculado na escolinha mantida pelo simpático clube de Paris. 
       3. O garoto, se fizer do futebol sua profissão, não tenho dúvidas de que, nos gramados, quaisquer que sejam eles, o Bernardo vai brilhar. Certamente não estarei mais por aqui; mas, do além, também se torce... 
      4. Dito isso, passo a falar sobre os craques mirins. Acompanhando o massacrante noticiário da Copa do Mundo, na Rússia, a gente constata que quase a totalidade dos jogadores que, agora, vestem a camisa da seleção canarinho, foram craques mirins.
     5. Chegaram ao ápice da carreira porque de certa forma foram ajudados: deram-lhes chances em grandes clubes; foram descobertos pelos "olheiros de plantão"; ou saíram das "escolinhas" de futebol. 
     6. No Brasil, algumas agremiações já se mobilizam e criam suas "escolinhas". Mas, até onde sei, fazem-no precariamente. Ainda não oferecem aos futuros craques o necessário suporte para que eles passem a acreditar que um dia serão astros nos gramados do mundo. 
     7. À garotada que frequenta as "escolinhas" deve-se dar o melhor. Para que, desde cedo, adquira, com segurança e indiscutivel precisão, o perfil do verdadeiro atleta. Se isso não for feito, dificilmente bons atletas serão.
     8. É o que faz o PSG mirim, no Rio de Janeiro. Sua "escolinha" dá à meninada uma infraestrutura que lhe permite sonhar com um futuro promissor.
     Agora mesmo, o time mirim do PSG-Rio - time do Bernardo - está em Lisboa participando de um torneio internacional, a Ibercup. 
     9. É certo que os franceses não fazem isso somente pelos olhos puros da criançada. O Paris Sant Germain, claro, está de olho nos craques que a "escolinha" poderá mandar, amanhã, para o Parc des Princes.
     10.  Em crônicas esportivas passadas, poucas por sinal, referi-me, an passant, à profecia equivocada do respeitado escritor alagoano Graciliano Ramos, em artigo que escreveu em abril de 1921. Repeti-la, nunca é demais.
     11. Usando o pseudônimo J Calisto, o velho Graça, nessa época morando, não em Quebrangulo, sua cidade natal, mas em Palmeira dos Índios, fez sérias críticas ao futebol: "Mas por que futebol?" Para, em seguida, estranhamente, vaticinar: "O futebol [no Brasil] não pega, tenham certeza".
     12. Em um arrazoado polêmico, bem ao seu estilo, justificou sua aversão ao futebol, admitindo que esse esporte poderia ser substituído por outros que ele considerava genuinamente brasileiros. 
         13. Não sei por que tamanha aversão do mestre Graciliano pelo futebol. Vale lembrar, que no seu tempo (nasceu em 27.10.1892 e morreu em 20.3.1953) o glorioso CRB, Clube de Regatas Brasil, agremiação que enche de orgulho os alagoanos, já existia. O CRB foi fundado no dia 20 de setembro de 1912.
     14. Na Copa do Mundo de 1950 Graciliano tinha 58 anos. Teria o mestre de "Linhas tortas" se alegrado com a derrota do nosso selecionado pela aguerrida "Celeste"? A derrota teria alimentado sua fobia pelo futebol?
     15. Pena que não tenha sobrevivido a outras copas nas quais a seleção verde-amarelo brilhou.      Veria que, ao contrário do que vaticinara, lá em 1921, o futebol pegou e pegou pra valer, na terra de Pelé. E que novos craques ainda estão por vir, muitos oriundos das "escolinhas". 

Nota - Com esta crônica, encerro meus rabiscos sobre esportes. Embora admire a editoria esportiva, não é a minha praia. Por isso, peço mil desculpas pelas asneiras que, por acaso, cheguei a escrever.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/07/2018
Reeditado em 05/07/2018
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