J U L H O

Julho foi se chegando de mansinho, dando o ar da graça sob um céu que,embora borrado de brumas, cede espaço à lua cheia.
Ela - a lua cheia - feito uma noiva nervosa -anda ligeiro desajeitada com o véu das núvens.
Começo de madrugada...Madrugada gelada do Sul.
Estou pronto para o abraço do mês que mais aprecio .
[ Pudera ! Nasci em julho, consegui meu primeiro emprego em julho e casei em julho ]
Julho das mimoseiras e laranjais curtidos de geadas.
Julho dos cones de feno, de araticuns, de piazada em tempo de férias.
Julho da casa da "vó", de paparicos , adulações, descompromissos.
"Julhos" de minha infância tão distanciados no tempo,tão vivos na lembrança.
Julho do "meu agora".Tão frio, tão insípido, tão compromissado...
[ Mas... Julho !!! ]
Ah! esta mimosa aberta em gomos à minha frente, a instigar-me tolas reflexões.
Vento gelado espatifando-se contra o vidro da janela.Ao longe uivam cachorros vadios .
Gansos ensaiam alvoradas em algum quintal pelas cercanias
e um grilo escandaloso rasga a quietude do meu jardim.
Pálida de frio , recostada no muro ,uma rosa desavisada espia o asfalto.
Um vulto encazacado singra assobiando sobre as pedras da rua lateral.
[ O sassobio carrega um misto de melancolia ]
E a madrugada é uma boemia que se arrasta entre uivos, assobios e grilos.
Murmuro em meu aconchego:
É julho!... É julho! ...


Joel Gomes Teixeira