Ela não sabe da maior.
O neon das letras que dão nome aos diversos tipos de cerveja é a única coisa que toca minha face sem deixar vestígios de penumbra. Isso até ela chegar, me fazendo criar um plano sequencia em câmera lenta, desde a sua saída do Táxi, até chegar ao meu lado. Sorri, cumprimenta os demais, diz que era exatamente disso que precisava: um clima meio ébrio, som ambiente de copos aos brindes, pessoas alternativas enfeitando o espaço-tempo e conversas sobre cinema e literatura. Tudo remetia as crônicas do Caio Fernando Abreu, quando de repente ,ela incorpora Lispector, num olhar para baixo, acaba se esquecendo da tertúlia ao seu redor. Eu perguntei o motivo da radical expressão dela, mas ela era elegante demais pra desabafar de primeira.
Ela de IPA e eu de APA, ela me ensinava muito de cervejas, e eu achando fazer um equilíbrio comentava sobre os diretores russos que admirava, mas saber falar aqueles nomes era mais louvável que qualquer tipo de cultura cinematográfica. Será que ela percebe? Que eu penso mil coisas quando estamos pertos e ao mesmo tempo não penso em mais nada, que quero fumar sua essência e faze-la beber meu perfume. Escureceu e eu ainda vejo luz nela, vejo força e a imitação de Han Solo que ela timidamente faz para os colegas. O karaokê nos chama, ‘’Evidências’’ só não é mais clichê que tirar fotos no ‘’precipício’’ da pedra da gávea.
Do nada ela desabafou, a natureza é foda mesmo né. Problemas amorosos, dúvidas, o mestrado, a carreira, de como ela odiou da vez que eu Comprei o cd da Alanis Morissette no lugar do cd do Morrissey. Depois disso a gente gargalhou alto no bar, ela encostou a cabeça no meu ombro, pude sentir o cheiro do seu cabelo, me lembrava de algo bucólico e quase adormeci, fiquei em transe, a mulher que eu amava estava de alma leve ao meu lado, isso era lindo.