CASAS E SEUS SEGREDOS.

Gosto de desvendar segredos por trás dos muros das edificações. Sou assim, entrar em prédios que respiram história e as vezes parece que já estive ali, estranho, mil anos atrás. Sinto isso. O sabor de desvendar lugares, mesmo que se conheça o passado antes de entrar em determinados sítios. Por isso já viajei muito, e viajo. Uma curiosidade que move a vontade. Caminho pelo Rio antigo a ver as edificações, imaginar o que ali viveram vidas. Casas, edificações antigas, carregam histórias, fora seus perfis interrogativos e segredados. Bastante avaliar as velhas e fantásticas construções antigas. Fora esse passeio anímico, admirar as construções como do tempo do Prefeito Pereira Passos, edificações notáveis que ainda restam, com cornijas, fustes e frisos a fazer a festa para a visão.

Mesmo casas comuns despertam curiosidade, muito mais hoje quando as cidades foram tomadas de edifícios, esse torvelinho de problemas que inunda a justiça em conflitos, desde a falta de pagamento de taxa condominial, direito de vizinhança, vazamentos que trazem danos na fração ideal, até inúmeros outros cansativos de serem listados, tantos são. A tal sociabilização da propriedade que verticalizou a habitação e não sociabilizou coisa nenhuma, trouxe conflitos e desentendimentos.

Minha casa de nascimento foi derrubada junto com outras tantas. Eu passo, olho, sinto que se foi um pedaço meu. Dá um certo vazio. Quanta história volatizada sobre seu teto de céu, só eu posso sentir. Os oitis das calçadas nos quais subia ainda estão lá, olho para o meu preferido, onde a ganchada em que me escondia era confortável, e volto em sonho.

Não vendi para empreendimento, não venderia, mas por ser de minha irmã também, não quis ser seu proprietário sozinho, comprar dela. Vendemos para uma instituição que se denominava Igreja de Cristo, evangélica. Me deu conforto.

Isto, o título, pacificou um pouco meu coração, minha mãe era uma fervorosa seguidora do Cristo, mesmo sem ir à Igreja. Raramente saia de casa, seu quarto tinha um gigantesco quadro de Nosso Senhor de Porto das Caixas, que teria vertido sangue em Itaboraí, RJ. Quando de sua ida, em sua homenagem ajudei a Igreja Nova.

Faz tempo foi vendida a casa, uns trinta anos. Foi Igreja muito tempo, agora muitos anos depois de ter sido vendida foi para o chão. Não quis assistir, evitava por lá passar, caminho de minhas arrancadas matinais.

Surgiu o foco do confronto, como falava minha avó, apartamentos, casa de cômodos do diabo.

Doze casas derrubadas. Minha cidade quase toda foi derrubada.

Minha casa onde moro sobrevive, a casa que fiz e moro datam quarenta anos, construída onde duas herdadas de meu pai foram derrubadas, mas está sendo perseguida faz dez anos, mas resiste.

O mercado sabe que não vendo depois que botei a correr os indevidos corretores que muito me importunaram. Pararam de me assediar. Rodeada de edifícios, em centro de dois terrenos, encontra-se altaneira e invencível, assim ficará até ser de meus filhos.

Indevassável, quando o portão levanta e se abre para sair um carro, seu interior fica desvendado, param e olham o jardim da frente onde eu mesmo fiz um "Jardim Japonês" e cuido, minha mulher diz que ficam extasiados, olhando, e elogiando. Há uma surpresa.

Ninguém mais tem jardim, casa, difícil. Muitos têm medo ou gostam desses clubes que tenho verdadeiro horror criados em edifícios. Toda edificação tem história, simples como a minha ou universal como o Fórum Romano.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/06/2018
Reeditado em 27/06/2018
Código do texto: T6375716
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.