ELA PASSOU POR MIM.
Era noite, começo de noite na verdade, a avenida estava movimentada naquele momento, mais do que o costumeiro, estava engarrafada, buzinas e faces emburradas atrás de volantes nervosos. O trânsito parado possibilitou-me atravessar a avenida tranquilamente. Do outro lado, as lojas baixaram as suas portas, a calçada esburacada exigia cuidado, passos descuidados e vacilantes poderiam leva-me a uma queda repentina, como muitas que já presenciei. Adentrei ao estabelecimento, na verdade, à escola de balé, que funciona na parte superior de uma loja agropecuária. Dois lances de escadas acima, a sala de espera revelava-se quase vazia.
Sentando em uma das poltronas quadradas, duras e desajeitadas, fiquei observando o escasso movimento que se passava no recinto. Aos poucos foram chegando as alunas, a primeira aluna veio acompanhada de sua mãe, loira, alta, rosto jovem, corpo forte, cabelo amarrado. A segunda aluna veio acompanhada do avô, baixo, aparentava seus sessenta anos, óculos redondos, semblante plácido, de poucas palavras. A terceira aluna veio acompanhada da mãe, alta, forte, e do pai, magro, calvo, óculos pequeno, os dois a deixou e saíram dizendo que voltariam logo. As alunas seguiram para sala onde as aulas aconteceriam, alegres, falantes, sorridentes, travessas, e saltitantes, seguiram para aula que se iniciaria em cinco minutos.
A professora estava dentro da sala, eu não a vi de início, mas de repente, saindo ela da sala, passou por mim, os belos e bem desenhados lábios exibiram um tímido e quase inexpressivo sorriso, seguido de um " oi " quase igualmente inaudível. Os olhos eram de um negrume tão profundo quanto a noite, sempre sérios, centrados em alvos fixos, porém, de brilho intenso. O corpo esguio, pequeno, parecendo uma escultura divinamente esculpida por Bernini, de formas bem definidas e de uma simetria perfeita em cada curva, em cada detalhe que estes olhos puderam vislumbrar. As pernas, tão bem torneadas, adornadas por uma espécie de meia calça branca, quase transparente, cobrindo a tez morena de sua pele, um shorts preto minúsculo colado ao corpo, permitia ver a delicada curva de suas nádegas tão bem definidas, típicas das atletas da ginasta. Ela apenas passou, com andar suave, deixando seu inebriante perfume, foi até a segunda sala, pegou um objetivo qualquer e voltou de retorno para a primeira sala, parecia flutuar em seus passos. Com um meio sorriso na face, ela passou por mim, eu, poeta insano que sou, apenas a observei, certo é, que eu não desejava prender-me em tal visão que resultou nesta narrativa, mas a graciosidade da bela moça, sua refinada educação, e seu sorriso feiticeiro, roubou-me a inspiração de cada palavras, eu, poeta insano que sou, ousei-me a essa breve e vaga descrição, essa descrição por sua vez, não capta com precisão em toda sua profundidade o momento vivido, as palavras não alcançam a dimensão da beleza de tão gracioso ser. O tempo da aula passou rápido, eu, poeta insano que sou, me via perdido em mil pensamentos.