Só depois de muito tempo
É frequente que a gente só perceba certas coisas depois de muito tempo, quando conseguimos analisar os fatos com mais frieza. E, ao nos darmos conta do quanto fomos cegos, ficamos surpresos com nossa tolice. Como não fomos capazes de ver tantas coisas erradas que agora nos parecem tão claras?
A gente olha para trás e, após analisar muitas situações passadas, vê que viveu relacionamentos abusivos mascarados de proteção, sacrificou-se por quem não valia a pena e abriu mão do que nos era mais importante por pessoas que jamais se sacrificariam por nós. Ver a verdade dói, mas é melhor do que ficar na mentira. Com o tempo, tornamo-nos mais resistentes à dor.
Dói ver que fomos tolos. Mesmo assim, é bom que tenhamos aprendido certas lições que não se ensinam nos livros. Livros podem nos transmitir muitos conhecimentos, mas viver a vida é que nos traz a sabedoria necessária para entendermos que as coisas quase sempre não são como esperamos e que precisamos passar pela experiência de viver para adquirir discernimento.
Um dos grandes influenciadores do fato de não temos logo sido capazes de ver o que estava errado é sermos condicionados a aceitar sem questionar as opiniões alheias e deixar que pensem por nós. Deixamos de usar nossos critérios e ficamos passivos como carneiros em vez de refletir. Às vezes, claro, sentimos que algo não se encaixa, mas, como a verdade pode ser bem feia, agarramo-nos a uma ilusão que nos dá conforto ou a esperanças de que, um dia, tudo irá mudar. Os exemplos de coisas erradas que não percebemos de imediato são inúmeros: você deixa alguém mandar na sua vida por entender que esse alguém sabe mais e "só quer o melhor para você"; aceita que lhe diminuam como se isso fosse normal e o problema fosse seu. Também é possível que você passe seu tempo tentando ser "bom" o suficiente para os outros, dando o melhor de si e negligenciando suas próprias necessidades para que os outros gostem de você. De verdade, o que você vai ganhar se anulando pelos outros? Não vão lhe ver como um ser humano com direito a uma vida própria, mas como alguém útil que sempre terá de estar lá para eles. Isso é justo? Será que ninguém se pergunta se você também não precisa viver sua vida?
Quando você acorda e vê que apenas se sacrificou inutilmente e deixou até de ser você pelos outros, não dá uma vontade de gritar consigo mesmo por ter sido tão tolo? Bem, se por um lado é triste que não tenhamos visto antes as coisas como elas eram, podemos nos alegrar com o fato de que hoje já não somos tão trouxas e que nossos olhos já estão mais abertos.