A Fé, Ganesha e Eu
Há muitas diferentes vivências, definições e entendimentos quanto à fé. Aqui eu vou falar do meu entendimento e da vivência da minha fé, de como eu a interpreto e vivo.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que respeito todas as religiões, embora não me harmonize pessoalmente com nenhuma delas. Até hoje, não consegui encontrar uma que falasse à minha fé, mas tenho profundo respeito por todas elas, porque eu acho que jamais se deve fazer pouco caso da fé alheia. Por que? Simplesmente porque ela é muito importante para quem a professa; que direito tenho eu de achar-me mais sábia do que os outros, ao ponto de questionar a sua fé? Não preciso ser arrogante ao ponto de tentar ridicularizar a fé alheia, apenas para parecer ‘esperta,’ ‘moderna’ ou ‘independente’. Porém, não acho bom tentar impor a própria fé ou religião aos outros; cada um tem o direito de seguir seu próprio caminho e fazer suas próprias escolhas.
A minha fé é como se fosse tentáculos que se estendem diante de mim, Para cima e para baixo, e por todos os lados. Eu vivo tentando sentir a energia das coisas, dos lugares e das pessoas. Algumas coisas e alguns lugares chamam a minha atenção, e outros me repelem. A fé é – e deve ser – uma experiência pessoal, e para que ela se expresse, eu vou experimentando o que funciona e o que não funciona para mim. Quem me conhece, sabe da minha ligação forte com São Jorge, porque em um dia de muita necessidade, eu me dirigi a ele e me senti amparada, e a ajuda veio. Depois disso, já recorri a ele várias vezes sendo atendida quase sempre.
Para explicar melhor essa minha coisa com a fé, vou contar uma historinha pessoal:
Certa vez, visitei um local aqui em minha cidade chamado “Vale do Amor.’ É um lugar junto às montanhas, cheio de verde, onde existem vários templos que abrangem quase todas as religiões, tudo ao ar livre, junto da natureza e cercado de beleza por todos os lados. De repente, passei diante de uma estátua de Ganesha; eu já tinha visto uma há muito tempo, na internet, e a imagem me intrigou: é um menino com cabeça de elefante. Em volta da imagem, havia muitas frutas. Eu parei, fiquei observando e senti alguma conexão com a imagem, que eu não sei explicar de onde veio. Eu nada sabia sobre a história daquela imagem. Fotografei-a, e publiquei a foto em um site de fotografias do qual participo, o EyeEm.
No dia seguinte, um indiano tinha deixado um comentário, me perguntando onde eu tinha conseguido aquela foto; expliquei a ele, e ele me respondeu, dizendo que Ganesha é um deus que remove obstáculos e traz prosperidade, e que se eu a cultuasse, ela traria muitas coisas boas para mim. Agradeci o comentário, mas não dei importância. Dias depois, procurando por uma imagem bonita para colocar como fundo na área de trabalho do meu computador, Ganesha reapareceu; baixei a imagem, e deixei-a na minha área de trabalho, mas sem entender direito o porquê de ter feito aquilo. Deixei-a lá por alguns dias, e depois troquei-a por outra.
O tempo passou; esses encontros e desencontros com Ganesha duraram mais de um ano. Eu assino alguns canais do YouTube, e certa vez recebi de um deles uma notificação por e-mail sobre a história de Ganesha. Acessei, escutei a história, achei muito interessante – gosto muito de lendas. Mas ficou por aí. Porém, ao entrar em uma loja de produtos naturais aqui em minha cidade, na vitrine, lá estava a imagem novamente; uma versão pequena, onde Ganesha veste branco e tem uma pedra vermelha na testa. Achei-a bonita. Trouxe-a para casa. Ainda não sabia bem o que estava procurando. No dia seguinte, resolvi arrumar meu armário de CDs – tenho tantos, que ocupam um armário inteiro! De repente... encontrei um que eu já tinha esquecido que possuía, um CD de música tântrica que contém alguns mantras... Ganesha retratado na capa. Coloquei-o para tocar, e a música se espalhou pela casa. Um sentimento de alegria e gratidão profundas tomou conta de mim.
Bem, a estatueta de Ganesha está lá, na minha sala de aula. Ainda não sei o que ela está fazendo ali, mas eu costumo tocar o CD com seu mantra, e quando passo por ela, sinto que existe algum tipo de vibração emanando dela. Também reparei que o número de pessoas que têm me pedido ajuda quando saio às ruas, e até pessoas que batem à porta da minha casa pedindo alguma coisa, aumentou bastante. E também que algumas coisas que estavam emperradas na minha vida, de repente começaram a caminhar novamente. Não sei o que significa tudo isso, mas estou seguindo este caminho; isso, para mim, se chama fé. Porque fé não se questiona; a gente sente um impulso, e segue um caminho, confiando nas coincidências que nos trouxeram a ele.
E eu não acredito que coincidências sejam apenas... coincidências. Elas nascem das raízes da fé. Ou talvez a fé brote das raízes das coincidências. Não sei.