Uma vida em 40 dias
A vida está naqueles segundos que precedem a escolha que pode mudar o destino e reescrever sua história. É quando o coração repica, e você segura o ar para não deixar seu espírito se desprender do corpo que já não está mais sob o domínio de sua mente consciente.
É como uma nudez natural de sua alma, que já cansada dos revezes de caminhos mal trilhados, resolve que é chegado o momento de ser lida e compreendida. Então, uma conspiração universal que está além da sua compreensão racional, te oferece o vislumbre de uma vida inteira passada em 40 dias, de uma maneira surreal.
Você se reconhece em alguém que te assusta porque te escuta com os olhos, te lê com a mente, e no silêncio te ouve plenamente.
Alguém que te desafia e arrepia, mas também traz calmaria. Alguém que enxerga a potência das múltiplas possibilidades da sua existência.
Então você compreende que não é mais possível dormir do mesmo jeito. A semente já está plantada e o estrago já foi feito. E mesmo que o medo entupa suas veias e impeça que sangue novo te faça renascer, mesmo assim você vai saber que há outro modo de se viver.
Você vai saber que na escravidão do ego e na servidão do orgulho, cegos são aqueles que se condenam a um futuro mais ou menos, e que menos é não se achar merecedor da plenitude de um grande amor, e o mais é simplesmente mais um dia na rotina que acomoda e asfixia, não por ser rotina, mas porque você já não é mais aquela pessoa que escolheu a vida que está empurrando a seco pela garganta.
Não é condenável ter medo da mudança. Condenável é vislumbrar a felicidade e deixar que se transforme em saudade. E quando chegar a hora da partida desta vida mais ou menos, e você se lembrar de que houve um momento de recomeço que iria te virar do avesso para te colocar do lado direito, mas que o medo da revolução te fez calar o coração, saiba que a pessoa que te devolveu a vida cumpriu sua missão, pois semeou o que faltava no seu peito, e só não regou e te ajudou a cultivar porque seu medo não deixou.
@capsulasdelucidez
Inspirado por J.N.