DISCURSO FÚNEBRE

Fui acompanhar velho amigo a sua última morada, como dizem. Evito quanto possível tal depressivo compromisso, mas diversos familiares telefonaram e não tive como descartar.

Não faltou discurso à beira do túmulo. Porém, a meu ver, o orador foi um tanto infeliz. Sacou do bolso folha de papel e passou a ler o discurso que pareceu mais ser um currículo, enfatizando que o defunto – repetiu algumas vezes essa palavra –trabalhou até morrer, para angariar dinheiro e poder. Nomeou as contas bancárias e apólices de seguro que deixou. E concluiu: o mal que os homens fazem sobrevivem a eles. O bem é quase sempre enterrado com seus ossos.

Para quem tem a pretensão discursar em ocasião como essa, recomendaria a leitura ao menos do Discurso de Péricles, sobre a democracia ateniense em homenagem aos mortos na guerra e também Morte e Sepultura Oratória Fúnebre, do Pe. Vieira.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 25/06/2018
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