Para o Max, com amor
O dia me acorda chuvoso do jeito que gosto. Na TV vejo Torres com seus paredões de pedra, a Ilha dos Lobos, a Praia da Cal, o Mampituba, beleza serena que se espelha nas aquarelas do querido Jorge Herrmann. O meu coração pulsa mais forte, sempre a saudade do mar. Para não sofrer, desvio o pensamento e vejo meu quintal lindo, coberto de folhas e restos flores. Meu São Francisco, do alto do pedestal de pedra, pousa o olhar sobre o vaso de antúrio, é tudo tão verde que dá vontade de chorar, agradecer e chorar. Preciso urgente ouvir Piazzolla, "Adios nonino"... Por estar frio, os pássaros ainda não chegaram devem estar agasalhando os seus ninhos. Deixo que o Max entre, ele se enrosca perto do aquecedor e nos olha com candura, também pode estar arquitetando alguma traquinagem para me deixar maluca. O olhar do cão é tranquilo e traduz a afeição que tem por nós. Aqui tenho os meus ternos amores. Vez ou outra o Max abana o rabo e suspira, deve estar sonhando com algum pedaço de pizza ou alguma outra delícia, sonhando como sonhou a cachorrinha Baleia de "Vidas secas". Como estou escrevendo, o cão aproveita e, sorrateiramente, se esgueira para cima do sofá, ali ele ganha afagos do "chefe", mas sempre com o olho em mim, sabe que logo vai ter que retomar o cargo de guardador do quintal e fiscal de passarinhos. Penso nos carrascos da Nação, tão locupletados pelo dinheiro do povo, tão milionários, acham que a felicidade só é possível em cifras. Ao contrário, digo que a felicidade é isto, um café num dia de inverno, a música de Piazzolla que se espalha pela casa, um cão amigo e abelhudo e o calor de um afeto.
Beijo a todos!