EU NÃO SEI COMO AMÁ-LO

Meu Deus, eu o amo tanto, mas não sei como amá-lo! Parece uma incoerência, dizer que se possui tanto de algo e, no entanto, não saber como usar.

Ele sabe que eu o amo, que procuro ficar sempre perto dele, que o envolvo com o mais doce olhar e quando tenho oportunidade eu o toco, acaricio. Mas ele... sim, também me olha com ternura, mas está sempre com outras pessoas. Conversa com os amigos na beira do mar, gosta de vinho, de rir... de conversar com muita gente, fazer palestras.

Não nego, sinto ciúmes, mas sei que ele condena esse sentimento, diz ser um dos sete pecados capitais. Nunca o vi ter ciúmes de mim, pois fico muito tempo sozinha com seus amigos, chego até a caminhar com alguns deles, mas ele nunca reclamou, nunca vi nele nenhum olhar de reprovação, pelo contrário, parece que ele gosta que eu me imponha como mulher, que saiba ser sedutora e responsável.

Mas, eu? Pelo contrário! Não gosto de vê-lo assediado por tanta gente, principalmente pelas mulheres, que ele vai em suas casas, conversa com elas com tanta intimidade, recebe delas presentes, testemunhei uma que se sentiu satisfeita somente por tocá-lo, sem nem mesmo ele ter visto quem era.

Sinto nessas ocasiões um aperto no coração, como se algo muito querido por mim tivesse sendo usado e abusado por outras pessoas. Mas ele não liga, parece até que ele procura isso. E aonde eu fico? Por que não tenho exclusividade do amor que ele tem? Por que esse amor é tão grande que tem que se derramar por outras pessoas? É por isso que penso que não sei amá-lo, pois não consigo colher todo esse amor para mim.

Tenho medo que o mundo o roube de mim, ele é inocente das maldades, não usa nenhum tipo de armas, acredita na bondade do mais vil pecador. E eu não sei também como defende-lo, sou repreendida por ele quando tento lhe defender com toda energia que possuo; ele chega a beneficiar o inimigo que tenta lhe prender, procurando corrigir o mal que eu possa ter causado.

Devo me contentar com a minha ignorância, pois não sei amar como ele ama. Devo me contentar com a sua presença, o som da sua voz, seu olhar de irmão.

Devo disciplinar o meu corpo a não querer o amante que jamais ele irá ter, devo me contentar com o seu carinho fraterno e imaginar que por onde ele andar, jamais ninguém terá um garanhão ao lado e sim um irmão, um amigo, que por mais que exale sensualidade no seu corpo sarado, não haverá arroubos de paixão carnal.