São João

Estava frio. Afinal, é Junho. Nenhuma das fogueiras pelas quais cruzei, me aqueceu feito ela. Era diferente. Gostoso, diria. A fim de prestigiar um Maestro que, com maestria embalaria às 20h um forró típico nordestino, saio de casa. Fogueiras, estalos, fumaça e frio. Às vezes até a chuva queria aparecer. É comum dos dias vintes de Junho. Eu, no entanto, não receio. Vou firme, sabendo do que quero.

O bom e velho casaco jeans me acompanha. Sob ele, uma camisa estampada em homenagem ao artista. O chapeu cinza, de praxe. Como de costume, um atraso de 30 minutos até o Maestro entrar tocando um grande clássico da cultura popular regional. Ao som da flauta transversal, faz menção daquela em que tudo há: A feira de Caruaru. Mas não é do show que quero falar. Foi lindo, claro. Com bons músicos e artistas fenomenais. Mas, o que ganhou meu coração, não foi o embalo do forró ou a forma melodiosa como o grande Mozart conduzia o espetáculo. Mas, de forma muito simples, a musicista que estava ao meu lado.

Minha consciência pesa por um único motivo: ser filho da capital do forró e não saber dançá-lo. Ora, se soubesse, não havia ficado simplesmente de braços cruzados ao lado da morena mais linda que assistia ao maestro. Pra mim, já é honroso está ao seu lado e dançar então... Quase que um sonho. Mas chego lá! Ela sim, me aquecia. Contido, sequer a abraçava. Não podia fazer isso em público por razões maiores. Mas, poxa, como me senti realizado. Mais que feliz apenas por está ali, ao seu lado. Há muito não me encontrava nesse estado de plenitude. É Claro que haviam outros olhares interessados, contudo nenhum brilhava como eu enquanto a observava.

Isso valeu minha noite. Amo a música, o ritmo e a identidade dos músicos, mas muito mais aquela que estava comigo. Isso é o que acho mais incrível: não estávamos colados como alguns casais ao redor, mas juntos, entrelaçados. Confesso que meu coração aqueceu. Foi ela, a morena linda que embalou minha noite de São João.

Lucas Motta