Escritores e o futebol
Feliz do povo que pode esfregar um Garrincha na cara do mundo.
Nelson Rodrigues
1. A "Folha de São Paulo" desta semana publicou um artigo do jornalista Alvaro Costa e Silva intitulado "Escritores boleiros". O ilustre escriba diz ser "conversa fiada" essa de que os escritores brasileiros não escrevem sobre futebol.
2. Para ele não é bem assim. Garante que quando nossos escritores entram em campo para falar de futebol, "os autores brazucas têm batido um bolão". Lembra o escritor Nelson Rodrigues (1912-1980).
Eu, particularmente, considero admiráveis as crônicas esportivas do Anjo Pornográfico, hoje reunidas no livro "À sombra das chuteiras imortais".
3. Alvaro, no seu artigo, dá está sugestão: "Que tal as ficções de Alcântara Machado, Rachel de Queiroz, João Ubaldo, Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, João Antônio, Loyola Brandão, Hilda Hilst, todas reunidas na antologia '22 contistas no campo', organizada por Flávio Moreira da Costa?". Seria muito legal, digo eu.
4. Rachel de Queiroz (1910-2003), por exemplo, deixou-nos uma belíssima página contando por que se apaixonou pelo Vasco da Gama, também meu clube preferido.
Trechinhos da crônica da querida e saudosa conterrânea: "Como é que sou vascaína? Não sei. Amor é assim: você vai atravessando a rua e de repente vê um cara e ele te olha, você olha para ele e pronto: apaixonou!"
5. Rachel confessa que, em sua casa, seu marido "era Fluminense - erro dele!". E que ficava inabalável diante dos apelos do escritor José Lins do Rego tentando arrastá-la ao Flamengo. Vale lembrar que Zé Lins, rubro-negro doente, escreveu o livro "Flamengo é puro amor".
6. Ainda Rachel, em "Por que sou vascaína", diz que lhe deram a carteirinha de sócio honorário. E que ao recebê-la, fez esta promessa: "Juro que jamais a rasgarei em momentos de desespero".Conclui a autora de "O Quinze": "A promessa foi cumprida; e ainda guardo minha carteirinha, linda, entre os meus documentos mais preciosos. Viva o Vasco!".
7. Lima Barreto (1881-1922) também escreveu sobre futebol. O professor, pesquisador Mauro Russo reuniu textos (alguns contestadores) do autor de "Triste Fim de Policarpo Quaresma" sobre o esporte das multidões. Estão reunidos no livro "Lima Barreto versos Coelho Neto - Um FLA-FLU literário". Vale a pena ser lido.
8. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) também escreveu, "com aquela graça dançarina", sobre futebol. É delicioso ler, do saudoso vate das Alterosas, suas crônicas e versos no livro "Quando é dia de futebol". Textos como este: "O difícil, o extraordiário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé" - (in "Pelé, o mágico - Pelé 1.000").
9. Mário Filho (1908-1966) escritor, jornalista, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues legou-nos um dos mais importantes livros sobre o futebol: "O negro no futebol brasileiro".
Não esquecer, nunca, o belo cronista esportivo Armando Nogueira (1927-2010), com seus livros "O canto dos meus amores" e "Na grande área". Uma maravilha!
10. Portanto, ontem e hoje, sempre tivemos autores renomados escrevendo sobre futebol. Citei apenas os mais conhecidos. Mas, na atualidade, outros também escrevem.
A queixa, porém, é a de que não existem romances sobre esse apaixonante esporte. Não sei se é verdade. Mas as crônicas e artigos sobre futebol, escritos por nossos intelectuais, dão ao leitor momentos de felicidade plena.
11. Não podia terminar esta croniqueta sem lembrar aquele escritor famoso que, em 1921, disse o seguinte: "O futebol não pega", no Brasil, claro.
Ele jamais podia imaginar que, ao longo do tempo, o PELÉ, o Garrincha, os Ronaldos, o Didi, o Leônidas, o Rivelino, o Zico, o Neymar, etc., etc. fizessem, brincando com a bola, a alegria de milhões de brasileiros, pobres e ricos, brancos, mulatos e pretos.
12. O autor dessa equivocada frase, ainda muito lembrada, volvidos tantos anos, chama-se - acreditem! - Graciliano Ramos, como sabem, um dos maiores romancistas do Brasil, o país do futebol.
Feliz do povo que pode esfregar um Garrincha na cara do mundo.
Nelson Rodrigues
1. A "Folha de São Paulo" desta semana publicou um artigo do jornalista Alvaro Costa e Silva intitulado "Escritores boleiros". O ilustre escriba diz ser "conversa fiada" essa de que os escritores brasileiros não escrevem sobre futebol.
2. Para ele não é bem assim. Garante que quando nossos escritores entram em campo para falar de futebol, "os autores brazucas têm batido um bolão". Lembra o escritor Nelson Rodrigues (1912-1980).
Eu, particularmente, considero admiráveis as crônicas esportivas do Anjo Pornográfico, hoje reunidas no livro "À sombra das chuteiras imortais".
3. Alvaro, no seu artigo, dá está sugestão: "Que tal as ficções de Alcântara Machado, Rachel de Queiroz, João Ubaldo, Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, João Antônio, Loyola Brandão, Hilda Hilst, todas reunidas na antologia '22 contistas no campo', organizada por Flávio Moreira da Costa?". Seria muito legal, digo eu.
4. Rachel de Queiroz (1910-2003), por exemplo, deixou-nos uma belíssima página contando por que se apaixonou pelo Vasco da Gama, também meu clube preferido.
Trechinhos da crônica da querida e saudosa conterrânea: "Como é que sou vascaína? Não sei. Amor é assim: você vai atravessando a rua e de repente vê um cara e ele te olha, você olha para ele e pronto: apaixonou!"
5. Rachel confessa que, em sua casa, seu marido "era Fluminense - erro dele!". E que ficava inabalável diante dos apelos do escritor José Lins do Rego tentando arrastá-la ao Flamengo. Vale lembrar que Zé Lins, rubro-negro doente, escreveu o livro "Flamengo é puro amor".
6. Ainda Rachel, em "Por que sou vascaína", diz que lhe deram a carteirinha de sócio honorário. E que ao recebê-la, fez esta promessa: "Juro que jamais a rasgarei em momentos de desespero".Conclui a autora de "O Quinze": "A promessa foi cumprida; e ainda guardo minha carteirinha, linda, entre os meus documentos mais preciosos. Viva o Vasco!".
7. Lima Barreto (1881-1922) também escreveu sobre futebol. O professor, pesquisador Mauro Russo reuniu textos (alguns contestadores) do autor de "Triste Fim de Policarpo Quaresma" sobre o esporte das multidões. Estão reunidos no livro "Lima Barreto versos Coelho Neto - Um FLA-FLU literário". Vale a pena ser lido.
8. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) também escreveu, "com aquela graça dançarina", sobre futebol. É delicioso ler, do saudoso vate das Alterosas, suas crônicas e versos no livro "Quando é dia de futebol". Textos como este: "O difícil, o extraordiário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé" - (in "Pelé, o mágico - Pelé 1.000").
9. Mário Filho (1908-1966) escritor, jornalista, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues legou-nos um dos mais importantes livros sobre o futebol: "O negro no futebol brasileiro".
Não esquecer, nunca, o belo cronista esportivo Armando Nogueira (1927-2010), com seus livros "O canto dos meus amores" e "Na grande área". Uma maravilha!
10. Portanto, ontem e hoje, sempre tivemos autores renomados escrevendo sobre futebol. Citei apenas os mais conhecidos. Mas, na atualidade, outros também escrevem.
A queixa, porém, é a de que não existem romances sobre esse apaixonante esporte. Não sei se é verdade. Mas as crônicas e artigos sobre futebol, escritos por nossos intelectuais, dão ao leitor momentos de felicidade plena.
11. Não podia terminar esta croniqueta sem lembrar aquele escritor famoso que, em 1921, disse o seguinte: "O futebol não pega", no Brasil, claro.
Ele jamais podia imaginar que, ao longo do tempo, o PELÉ, o Garrincha, os Ronaldos, o Didi, o Leônidas, o Rivelino, o Zico, o Neymar, etc., etc. fizessem, brincando com a bola, a alegria de milhões de brasileiros, pobres e ricos, brancos, mulatos e pretos.
12. O autor dessa equivocada frase, ainda muito lembrada, volvidos tantos anos, chama-se - acreditem! - Graciliano Ramos, como sabem, um dos maiores romancistas do Brasil, o país do futebol.