"CONSILIÊNCIA".

Pessoa que pretende ir para a eternidade no mesmo cantinho que nasceu, meu conhecido, aponta o local; mora na casa em que veio ao mundo.

Quando me falou isso algumas vezes, eu, muito extrovertido em todos os assuntos, menos nos sérios e de alta indagação, quando sobre os mesmos me mantenho em silêncio para aprofundar-me quando só, fiz blague e achei graça; e faço sempre sobre o fato.

Mas seu desejo era o foco do grande mistério que nos envolve a todos e cria desígnios míticos e místicos. Naquela vontade estava o elo da eternidade, como diz Ghandi, “O nascimento e a morte não são dois estados diferentes, mas aspectos diferentes do mesmo estado”. E completa Kalil Gibran: “é somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar”, pois “ que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol”.

Queria na sua estranha vontade, na realidade crua para o observador, como todos queremos, preservar sua passagem pela inalação do oxigênio que traz a vida terrena, sofrida ou não, ligando-a pelo mesmo local de chegada e partida.

Almejava renascer. E queria fazê-lo onde Edward Wilson, surpreendente cientista, pioneiro da sociobiologia, um dos maiores cientistas vivos do mundo, descreve nessas linhas em sua obra “Consiliência”: “No centro de nosso mundo está o solo natal”. Quanto realismo nessas poucas palavras. Renascemos a cada dia. Um renascer permanente até o máximo renascimento, a eternidade, como quer o meu conhecido no mesmo canto em que chegou.

Wilson ensina que estamos atingindo o apogeu do iluminismo, rompendo com o pensamento atual, mostrando que o aumento explosivo do domínio intelectual do que seriam as verdades do universo, traz raízes dos conceitos gregos e estão concentradas em diminuto número de leis naturais fundamentais que condensam todos os princípios subjacentes do saber - é a unidade fundamental de todo o conhecimento; a busca da “consiliência”, é seu o vocábulo que dá título ao livro.

Lendo como faço habitualmente artigos novos lançados em sites que me interessam, sob senso avaliativo, vejo uma narrativa de repórter, meu conhecido, quando em Manágua, pintada com cores de viva memória, onde a evocação de altos valores de seu solo natal estão marcados, e desejava então longe de casa; prosperidade para todos.

Me reportei aos desejos manifestados, ambos, ligados ao solo natal. O núcleo era a força da busca do grande mistério, a felicidade que estaria na vida em geral, originária do solo natal, felicidade individual e coletiva, e seus contextos, prosperidade para todos, material e emocional, renascimento para os que estão longe de alguma forma, em corpo ou espírito.

Estamos diante da felicidade perseguida, mesclada nessas vontades; felicidade, irmã da prosperidade. São formas palmilhadas pelo gênero humano, não só a material felicidade, desejável para todos os seres humanos, pois não há como sermos felizes sem que haja prosperidade para todos, entendo assim e acho que todos os homens conscientes também.

Mas existem felicidades que se distanciam da prosperidade material, como a oriental, budista, por exemplo, tão vizinha da “consiliência” de Wilson, para quem “ somos levados pelos impulsos mais profundos do espírito humano a nos tornar mais do que pó animado”.

Ser feliz é estado anímico que não se inclui em gênero nem é valorado de forma massificada, é fugaz e transitório, mas pode incluir e definir valor material que seria generoso se imbuído da maior qualidade humana, o altruísmo. É possível sim, suprir os seres humanos do indispensável para sua dignidade, e esse estado, atingido pela prosperidade, é uma das espécies de felicidade.

Segundo todos os estatutos organizacionais dos Estados, sejam quais forem suas ideologias, como em nossa Constituição, felicidade é um direito, é a finalidade da sociedade à felicidade comum.

Embora tal definição seja comprometedora do conceito de felicidade, ela é prometida, quer no âmbito pessoal ou coletivo, neste por sua virtualidade sempre ocorrente nos estatutos dos Estados.

Quando se descobre tornar-se impossível a realização coincidente e isocrônica dos dois ideais que dividiram e de certa forma dividem ainda o mundo e os Estados, liberalismo e socialismo, embora mitigados, massacrando o ser humano, mais ou menos, conforme políticas estabelecidas da Finlândia ao Haiti, retirando a prosperidade do homem e enfim a felicidade, ou concedendo-a plenamente em termos materiais, restamos frustrados com esse fiel da balança em confronto, diversionista em termos mundiais.

Mas esses são os caminhos inevitáveis criados pelo homem, a saga política-ideológica que, escorregadia, patina no tempo sem encontro definitivo que realize “a prosperidade de todos”. A sedução do poder e o egoísmo humano trazem sombra para sua almejada luz.

Por exemplo, enquanto o liberal prefere a liberdade ao custo da igualdade, inversamente o socialista prefere a igualdade ao custo da liberdade. O liberalismo e o socialismo não são e nunca serão ideais de justiça, ensina a história com seus conflitos. E o encontro de ambos não é permitido pelas vaidades e sectarismos; é corolário histórico.

O princípio generoso de que nos fala a verdade cristã, “prosperidade e felicidade de todos”, diga-se, é a grande meta do pensamento humano, fácil teoricamente de estabelecer, como acontece curricularmente, retoricamente, mas difícil concretamente de executar. A mesa de conciliação é de difícil assento, é o caminho das trevas para luz, que é caminhado, ouça-se a história, mas brutalmente áspero e de difícil atingimento.

Afaste-se o egoísmo, a opinião opiniosa, a repetição por nada ter a deduzir de aproveitável, a ditadura da repetência por falta de ideias, a volúpia de amealhar mais, riquezas que não se podem gastar, tamanho são seus volumes, filhas da corrupção.

Alvos de atingimento nulo.

Index difícil, libelo permanente, mas sempre deve ser lembrado como o querido solo natal, o solo da nossa passagem, aquele solo onde se nasceu e pretende-se que guarde nossas cinzas. Solo que causa “banzo” quando estamos longe.

Justiça social e felicidade, esta no campo individual. São impossíveis de serem alcançadas em plenitude, de forma universal, planetária. Se um Estado que cumpre integralmente seus deveres pode proporcionar em larga escala e quase unanimemente a felicidade (prosperidade) de cada um, o que em dia remoto espera a humanidade, não pode individualmente evitar a infelicidade de um rapaz que gosta juntamente com outro de uma moça e não é correspondido por ela que fez opção pelo seu concorrente. Um será infeliz. Nesse setor, emocional - pessoal, a felicidade não é um valor, o são a justiça social e a liberdade, de forma evidentemente coletiva, possível esperar-se algum dia.

Também mesmo no setor do Estado cumpridor de seus deveres, não podemos ter a pretensão ao “direito à saúde”, por exemplo, porque esta dependerá de vários eventos ocorrentes ou não, onde a sociedade não interfere. Teremos direito a adequado serviço médico posto á disposição pelo Estado, sociedade organizada, o que depende da vontade coletiva e gestão; saúde depende de nosso estado pessoal e de fatores supervenientes aos tratamentos.

Assim não é difícil se almejar a prosperidade social que os Estados, no mundo, poderiam proporcionar, calcados até mesmo na globalização generosa, realizando a vontade comum, como todos os altruístas e homens de ideais buscam o mesmo em qualquer rincão.

Buscar a prosperidade do mundo deve ser a meta de todos nós, felicidade é sentimento (valor) remoto para integrar a vida humana; indicam a filosofia e a história.

Lembrar que o solo natal é meta de melhores dias é maximamente importante. Meu solo. O pedaço em que nasci, onde nasci, frequento sempre, e fico a olhar, e ver ao ponto de aquecer meu olhar no passado, e também frequentá-lo como se nele estivesse.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/06/2018
Código do texto: T6370540
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