Solstício

Em meio ao agito corriqueiro da cidade, bandeirolas tremulando nos carros e fitilhos verde e amarelo pendurados nos postes anunciam que é época de copa, todos sabem.

Longe no hemisfério norte, na distante Rússia, os jogos de futebol agitam o mundo pra quem gosta desta bola. Longe, bem longe, o astro rei Sol vem como sempre rompendo a madrugada, inicia a sua parábola vinda do leste para traçar seu compasso no céu.

Nestes vinte e um de junho de dois mil e dezoito (era cristã), longe dos olhares apressados dos metropolitanos, e alheio a tudo, o sol avança.

Sob nossos pés a nau Terra balança e inclina-se sobre seu leito, a bombordo verão, a estibordo inverno.

O dia que se inicia no Sul será mais curto, o mais curto do ano. O inverno por aqui estreia às sete horas e sete minutos da manhã. O sol como sempre, cumprindo a tarefa de abastecer esta Terra de energia, ao traçar o seu compasso, não será notado em sua plenitude em meio ao ir e vir de passos apressados.

Quando os ponteiros dos relógios na parede terem demarcado a rotina, café, almoço, lanche e jantar, o sol terá cumprido a sua trajetória. O dia terá escurecido mais cedo. Mas estáticos como soldadinhos de chumbo os ponteiros do relógio não terão notado.

A rotina na metrópole é linear e transforma pessoas em robôs. Os passos apressados pelas calçadas só têm olhos para os ponteiros do relógio na parede, para as telas de TV nas vitrines das lojas.

As mentes capitalizadas pela ilusão material da felicidade caminham cegas, não veem para além da sua própria rotina artificial. No norte já é verão, no sul inverno, temos um solstício, mas quem nota?

Os passos pelas ruas seguem sem enxergar.

Gladyston Costa
Enviado por Gladyston Costa em 21/06/2018
Reeditado em 06/12/2021
Código do texto: T6370399
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