Primeiro, puro- amor
Inspirado pela crônica: "As punições" de Clarice Lispector. Publicado em: 4 de novembro de 1967 no Jornal do Brasil.
Lembro-me uma vez do meu primeiro amor que encontrara na escola. Foi por ela que descobri que o mundo iria ser mais complicado, pois, afinal, amar é um ato de quebrar-se no outro e isso gera mui confusões na alma.
Ela era branca, baixinha, tinha um lindo cabelo liso em corte chanel bem-pretinho e possuía um sorriso que já em tenra idade indicava o seu lado maternal.
Por ela, sofri. Por ela, ainda sofro.
A paixão era de infância mais já tão forte que o nome dela na minha pele e no meu corpo franzino de criança já ficara marcado.
Quão poderoso é o pathos, mesmo entre crianças!
Mal nós falávamos, bem verdade. Mas como sempre estudei em escolas de freiras achava que o ato de tamanha paixão e subversão ao simples onze anos de idade deveria ser canalizado para aqueles quadros da paixão de Cristo que tinha entre os corredores da escola.
Certa vez, a escola promovera um grande passeio. Era uma visitação ao planetário na Zona Sul no RJ. Por algum motivo que até hoje não lembro sentei-me junto com aquela de quem eu amava em segredo.
Chegando ao local fazia parte da apresentação o apagar-se das luzes, as cadeiras que se mexiam e se integrar aos cosmos da Via Láctea como um grande cinema em diversas dimensões. Na metade da década de 90, isso era muito tecnológico, sabe?
E durante a apresentação por algum motivo a esmo ela me disse: - "tenho medo do escuro, posso segurar em sua mão?"
Meu espírito gelou-se e só lembro que disse um monossílabo opaco e tímido - Pode.
Não sei quando tempo durou a apresentação mas acho que naquele momento experimentei uma epifania do eterno. O calor das nossas mãos entrelaçadas, as estrelas que cintilavam perto dos nossos corpos infantis e a sublime paixão que consumiu-se sem nenhum ato- apenas tudo fora um fugaz instante de cálido enamorar-se junto daquela grande representação des constelações.
Depois desse ano, nunca mais a vi. Acho que mudara de escola ou coisa assim. E nos últimos dias antes de lembrar dessa pequena história soube que ela é estudante de medicina aqui no RJ.
Enquanto a mim, sou um escritor não lido e colecionador de eternidades já perdidas.
Inspirado pela crônica: "As punições" de Clarice Lispector. Publicado em: 4 de novembro de 1967 no Jornal do Brasil.
Lembro-me uma vez do meu primeiro amor que encontrara na escola. Foi por ela que descobri que o mundo iria ser mais complicado, pois, afinal, amar é um ato de quebrar-se no outro e isso gera mui confusões na alma.
Ela era branca, baixinha, tinha um lindo cabelo liso em corte chanel bem-pretinho e possuía um sorriso que já em tenra idade indicava o seu lado maternal.
Por ela, sofri. Por ela, ainda sofro.
A paixão era de infância mais já tão forte que o nome dela na minha pele e no meu corpo franzino de criança já ficara marcado.
Quão poderoso é o pathos, mesmo entre crianças!
Mal nós falávamos, bem verdade. Mas como sempre estudei em escolas de freiras achava que o ato de tamanha paixão e subversão ao simples onze anos de idade deveria ser canalizado para aqueles quadros da paixão de Cristo que tinha entre os corredores da escola.
Certa vez, a escola promovera um grande passeio. Era uma visitação ao planetário na Zona Sul no RJ. Por algum motivo que até hoje não lembro sentei-me junto com aquela de quem eu amava em segredo.
Chegando ao local fazia parte da apresentação o apagar-se das luzes, as cadeiras que se mexiam e se integrar aos cosmos da Via Láctea como um grande cinema em diversas dimensões. Na metade da década de 90, isso era muito tecnológico, sabe?
E durante a apresentação por algum motivo a esmo ela me disse: - "tenho medo do escuro, posso segurar em sua mão?"
Meu espírito gelou-se e só lembro que disse um monossílabo opaco e tímido - Pode.
Não sei quando tempo durou a apresentação mas acho que naquele momento experimentei uma epifania do eterno. O calor das nossas mãos entrelaçadas, as estrelas que cintilavam perto dos nossos corpos infantis e a sublime paixão que consumiu-se sem nenhum ato- apenas tudo fora um fugaz instante de cálido enamorar-se junto daquela grande representação des constelações.
Depois desse ano, nunca mais a vi. Acho que mudara de escola ou coisa assim. E nos últimos dias antes de lembrar dessa pequena história soube que ela é estudante de medicina aqui no RJ.
Enquanto a mim, sou um escritor não lido e colecionador de eternidades já perdidas.