SOU E ASSUMO. PONTO!

Claudinho Chandelli

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Muitos, eu sei, demonstrar-se-ão escandalizados. Outros não entenderão, ou não aceitarão.

Para alguns dos meus familiares, pessoas de origem simples (como eu, obviamente), convencional e educação profundamente marcada pela religiosidade, talvez um choque.

Para a maioria dos meus colegas de profissão (no município onde trabalho), praticamente um desvio de conduta, um ato incompreensível, inadmissível, inimaginável, uma atitude quase insana ou suicida.

Não pensem que está sendo fácil pra mim; que isso não me impõe sofrimento ou que eu não tenha, ao longo de anos, hesitado fazer tal declaração, tão abertamente e direta. Eu também estou um tanto chocado! Há muitos anos, quando ainda jovem, jamais me imaginei fazendo tal declaração.

É óbvio que pensei nos possíveis impactos que isso causaria entre aqueles que me conhecem, conhecem a minha conduta e acompanham a minha vida pública.

Levando em conta minha vontade pessoal, eu preferiria não ser tão acintoso. Não se trata, no entanto, de uma vontade ou capricho pessoal. É uma necessidade coletiva, um clamor social... uma imposição conjuntural.

O que eu espero com isso? Não muita coisa.

Se eu conseguir alcançar dois objetivos já ficarei contente: me sentir mais leve após a sensação de dever cumprido, e despertar em meus colegas de profissão que negam tal condição a determinação para se assumirem também.

Embora, repito, seja chocante para muitos que me conhecem [ou pensavam conhecer até o início da leitura desse texto], não relutarei nem hesitarei mais em tornar público que sou um político; SOU E ASSUMO. PONTO!

Não estás chocado(a) com tal revelação?! Que bom! Fico feliz...muito feliz...em saber que pra você não é algo escandaloso um professor (como qualquer outro ser humano) declarar reconhecer e assumir-se como político.

Não me refiro ao político profissional – tão comum em nossa sociedade brasileira – nem ao membro de uma sigla partidária ou ideologia. Falo do civitatum ou morador da polis, o absoluto e verdadeiro político por excelência.

“Não precisava esse suspense todo para uma revelação tão simplória”, você pode está argumentando. E eu, com ou sem a sua permissão, contra-argumento: sim; precisava sim.

E por que precisava? Precisava para que aqueles professores – que não são poucos – que, peremptoriamente, resistem heroicamente à terrível e demolidora ideia de se assumirem como seres políticos entendam que isso não é uma questão de escolha – não está no âmbito de nossas possibilidades esse tipo de arbítrio –; muito pelo contrário: é uma questão de falta de escolha. Como seres humanos que somos e, principalmente, como profissionais das ideias, do pensamento, do conhecimento, ser político não é uma questão de se tornar o virar, mas apenas assumir-se como tal...político, segundo Platão, todos nós já nascemos sendo.

A probabilidade de, sendo professores, não sermos políticos está para nós tanto quanto está para qualquer vertebrado não ser vertebrado mesmo sendo um animal com coluna dorsal; ou seja: impossível!

Negar tal condição – como costumamos fazer, tanto pelo discurso quanto e, principalmente, pela prática – pode nos tornar mais alienados (e alienadores), mais omissos, mais cúmplices das gestões fraudulentas e descompromissadas, menos atuantes, menos colaboradores com os mais necessitados de esclarecimentos e de autonomia política, menos protagonistas de nosso próprio destino; porém jamais conseguiremos – ainda que insistamos – ser menos políticos.

Além de engano, é uma demonstração de profunda alienação e ignorância julgar que nosso silêncio e/ou omissão nas questões políticas nos torna menos políticos, uma vez que a decisão de não participar, não atuar politicamente já é, em si, uma decisão e, como qualquer outra resultante do poder de escolha (que só nós humanos, por sermos pensantes, temos), é política.

Como afirma o Prof. Mario Sérgio Cortella (2015), “Eticamente, é quase um clamor que nós ultrapassemos esse mundo da tarefa e cheguemos ao mundo da política com aquilo que fazemos. (...) A presença na polis não pode se contentar em ficar na obrigação”.

Não se trata de exibicionismo, carência de visibilidade, ideologismo, fisiologismo, partidarismo ou outros tipos de vaidades quaisquer. É uma questão moral, ética e de sobrevivência.

Para qualquer ser humano e, em particular, o professor, assumir-se como agente político – e deixar isso claro no seu discurso e em sua práxis – é tão vital quanto o é para um peixe de aquário a oxigenação artificial. Ou seja, a continuação de sua existência e a salubridade dela dependem dessa assunção.

Aliás, se não for para atuar como agente político, muito em breve nós, professores, seremos totalmente descartáveis. Afinal, se for apenas para transmitir informações, as máquinas do nosso século nos superam bem...e com todas as vantagens possíveis.

Portanto, querido(a) colega professor(a), por mais que choque, doa, provoque escândalo, discórdia ou desencadeie qualquer outro tipo de desconforto, não resista ao irresistível; não lute mais contra a predisposição natural de nossa espécie (homo polythicus). Faça como muitos já fizeram! Para de sofrer! Vença a angústia, a desconfiança, o medo...! Liberte-se! Assuma-se como civitatum ou um(a) autêntico(a) morador(a) da polis! Assuma-se como ser político!