A FOME
Todos os dias a fome sai para encontrar comida que as nações jogam fora.
É impossível imaginar que no meio daqueles bilhões de transeuntes, ela está escondida em quase meio milhões deles.
Em todos os olhares desconfiados das pessoas, quem está faminto cambaleiam, dançam, as pernas bamboleiam e a barriga provoca um gemido, um atrito corroído que dói por dentro e arrebenta as veias.
Os olhos parecem que veem miragem das praias distantes, sentindo o cheiro de peixe frito que vem das margens; ambulantes que disputam a ferro frio, a sol a pino com a cara e a coragem.
Continua a caminhada da fome entre os restaurantes de luxos e os de terceira categoria na beira da estrada, onde todos ignoram a sua existência não lhe dando o pão nem se pedir clemência, e encham os latões de lixos das sobras daquele dia sem um mínimo de consciência.
A fome se depara em frente a um homem que aparentemente não se importa com tal conhecimento.
Sentado bem confortável em uma mesa de bar começa a dialogar com a tal peregrina, não se da conta que será a próxima vítima.
_ Bom Dia meu bom forasteiro? Passo por aqui porque ninguém perguntou de onde venho_ Disse a fome.
_ Estou farto, muita regalia se isso ti incomoda, senta aqui só por esses dias e sentirás bem do que ficar vagueando por aí buscando quem não te queres_ Respondeu o forasteiro.
_ Como posso sentar a tua mesa se muitas gentes me atraíram; muita pobreza e quando menos esperam estamos lado a lado: a miséria e a nobreza.
_ Não sabia que a miséria também te acompanhava, quem olha assim não esperava, vem sutil e adornada como perfume que exala aqueles que por elas forem abraçadas.
_ É forasteiro venho na hora em que ninguém espera; no momento que está tudo dando certo, mas que em questão de tempo começo a gerar o egoísmo das pessoas que não pensam nas outras. É ai que morra o perigo quando venho e bato á sua porta.
_ Com certeza você continuará vagueando por todos os lugares e mundo afora, o que te digo não é novidade tudo se multiplica é verdade, mas não vem se achegar a mim só por minha vaidade.
_ Estou nos olhos de cada criança de peito, dos anciãos sem teto, sem lar, sem respeito; das mulheres largadas nas ruas, das adolescentes, das jovens seminuas, do corpo magricelo do andarilho, na garganta o suportar o grito.
_ Tem várias razões de ser peregrina. Mas não sente dó daquele ser que sua boca percorre os lixos em busca de tal alimento?
Não fique desesperada, é a desgraça de todo elemento; a mão espalmada do pedinte, a triste madrugado do ouvinte, é mais um corpo a ser tragado.
_ É disso que me alimento forasteiro. A humanidade sempre está descuidada, desprotegida e ludibriada.
O ser humano é um poço de ignorância; sem berço, sem laço materno do tudo que é nada, vai destruindo aos poucos a força e a coragem enquanto desfilam em mentes embriagadas rios de risos nas ilusões das passarelas, lesados nos seios das más donzelas que lhe roubam o gosto da juventude, das brincadeiras sujas do meio-adulto que sufoca a ânsia do velho e o inculto.
_ Não é á toa que se chama fome, porque quando toca o corpo de qualquer pessoa, acaba-se o título de doutor, de ator, Embaixador, aprendiz, profissional ou amador; é uma situação devastadora devolvendo o troco do capitalismo, que olha para o favorecido e esquece o maltrapilho.
Passado alguns anos a fome devastou quase toda população da terra, levaram ao fundo do poço os empresários e patrões, jovens donzelas que aderiram o hábito para ficarem belas e magricelas; e desceram a tumba fria deixando para trás ofertas, milhares de dólares e suas famílias chorando seus mortos.
Não se lembrou do seu encontro com a fome, quando estava a satirizar e a regalar com tudo que possuía, dando risadas, gargalhadas e sorridente bebia; agora está frente-a-frente com a fome, coisa que jamais previa encontro inevitável retrato do dia-a-dia.
Diante daquela situação caótica se rende aos pés do milionário vagabundo; não há distinção entre todo mundo somos todos iguais caindo no abismo profundo: É a fome.
Essa catástrofe chegou ao país africano e se estalou de uma só vez, como fosse a sua própria casa, arrastou: velhos, adultos, jovens e crianças.
Quanta dor a luz do dia, como sofrem; é covardia que ninguém se compadece, nenhuma estrela famosa aparece para lhe dar um pedaço de pão.
Nos corpo de cada um dele víamos a marca da compaixão, os olhos lagrimejando e o tronco esquelético esparramado no chão.
E há alguém que escarnece desconjura de não ter nascido lá; batem no peito e agradece quem é de direito, que não conhecem e nem sabe rezar a Deus que tudo rege.
A humanidade parece que já foi sentenciada pelo acordo divino, fazem do seu próprio eu o destino que quiserem, e recebem em troca a semente que plantou num planeta desgovernado a imagem da pura desordem, num mundo que não há amor.
Salvem-se quem puder!!!