A morte em tempos modernos
Morreu a jovem Dorotinha. Tão simpática e prestativa ela era. Sempre ostentava um sorriso cativante no rosto. Um encanto de menina. Inteligente, sempre transformava qualquer trabalho em arte. Era uma querida, não merecia morrer, a pobre Dorotinha.
Em minutos a notícia se espalhou e tomou conta das redes sociais. Na sua página pessoal era um tal de “Vai com Deus”, “Que os anjos te guiem”, “Encontre a paz”... Todos os seus oitocentos e tantos amigos se mobilizando, gastando minutos de seu luto frente a seus computadores, esperando que Dorotinha lesse suas mensagens de carinho e compaixão. Talvez esperassem uma resposta de algum lugar do além, dizendo que tudo estava bem. Uns esperando que suas mensagens reconfortassem o coração da doce Dorotinha, livrando-a da frustração da morte prematura. Outros querendo só promover-se à custa do sensacionalismo. E mais uns tantos espiando apenas para saciar sua curiosidade.
Um dia, quem sabe, Dorotinha mande notícias do outro lado e diga que está tudo bem (ou não).
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Eis os tempos modernos, novo jeito de lidar com o fantasma da morte. Estranho?! Não... Curioso, talvez.