Sucesso às narradoras

Há alguns anos, um amigo me confidenciou a apreensão em assumir uma disciplina reconhecidamente complexa em uma faculdade. Partilhou também a insegurança com um de seus irmãos, que sabiamente lhe disse:

- Rapaz, você é competente; além disso, a faculdade é no interior. Você não terá de rivalizar com medalhões, que o nariz empinado costuma nos amedrontar. Você será o dono da disciplina. Portanto, nada de nervosismo.

Achei a lição sábia, e a cito aqui porque de uma forma ou de outra estamos envolvidos com a transmissão dos jogos da Copa, que repetem invariavelmente certas figuras carimbadas da transmissão esportiva, que não nos oferece opções na tevê aberta. Só temos uma emissora.

Pela Internet, vejo a notícia de que uma tevê paga, a Fox, inovou e escalou no seu time três mulheres como narradoras. Recebi, inclusive, a narração do primeiro gol da Rússia contra a Arábia Saudita. Isabelly Moraes, uma moça de 20 anos, narrou empolgada. Foi bem a moça.

Carreira longa, menina, e com muito sucesso! Fico então imaginando que, no seu caso, até caberia bastante apreensão, pois, inevitavelmente, haverá muitas comparações com as estrelas da narração esportiva; além do mais, é uma profissão abraçada por homens, e nossa sociedade ainda não se acostumou com as mulheres galgando posições tipicamente masculinas. O resultado, principalmente nestes tempos de palavras soltas, podem ser avaliações machistas despropositadas.

A luta histórica das mulheres por seus direitos tem obtido êxito – embora muito ainda se deva conquistar. Sob esse aspecto, o Brasil – juntando-se a outras nações – deu ao mundo uma bonita lição quando chegou a reeleger uma mulher presidenta da República. O final da história todos conhecemos – bastou uma certa instabilidade para que forças conservadoras a apeassem do poder. Por trás do processo, esteve embutido (e muito!) o preconceito contra as mulheres e sua competência. Preconceito muitas vezes de mulher contra mulher!

Contra esses preconceitos é que todas as mulheres deveriam formar fileiras... Que cada gol narrado por Isabelly simbolize um gol das mulheres na conquista desse novo espaço profissional! O tempo dirá. Sucesso às narradoras!