CECILIA MEIRELES ENCANTOU-SE COM O SUL DO PARANÁ
As vezes sou muito bairrista com relação à minha região.Mas não me culpo por isso.
Amo este meu Sul com tôdas as suas peculiaridades,suas etnias, estes céus que azulam-se em profundidade durante o dia e as tardes de céus de goiabada que prenunciam manhãs geladas de inverno.
Este nosso jeito meio caipirão de ser, esta garra e força de vontade sem limites que nos alavanca.
Moro ao Sul do Paraná,numa região onde predominam as etnias polonesas e ucranianas e este povo de origem eslava preservador de sua cultura e tradições uniu-se às nossas tradições e costumes e deu um tempero um tanto diferenciado a este rincão tão amado.
E tanto, que já nos anos trinta a fabulosa Cecília Meireles num percurso que fazia num trem internacional,passando cá por estas bandas, assim referiu-se a nossa vizinha de cerca,Marechal Malet.Distante uns 80 km de Irati.
Cecília Meireles ( Crônicas de Viagem)
Amanhecemos no Paraná, sob um sol de suave glória. Taças de pinheiros oferecem altos vinhos azuis. Aparecem as primeiras e encantadoras casas de madeira. Um mundo de brinquedos brancos, vermelhos, verdes, dispostos na veludosa caixa matinal do terno campo. Aparecem crianças louras, descalças, mirando a passagem do trem. São bonecas silenciosas e admiradas, de mãos e pés de coral, sustentando no flanco o irmãozinho pequeno, sustentando nos braços o cachorrinho peludo, ou simplesmente – como expressão virginal da terra – levantando para o trem uma flor que parece caída de sol. Como nos aproximamos de alguma estação, aumenta o número de casas, aparecem mais crianças louras, mais irmãozinhos, mais flores e agora brilha a madeira clara, desnuda, pacientemente amontoada em largas camadas de tábuas finas.
Mais adiante, madeira mais nova está secando ao sol, cruzada em X.
E aqui estão as serrarias.
E ali estão os pinheiros.
Todas as casas têm cortinas. Todas as crianças, agora, têm calcinhas de lã, casaquinhos azuis...
E um leve sol dourado galopa com os cavalos soltos nesse tranquilo mundo vegetal.
É um mundo sem fim de pinheiros, de chalés de madeira com janelas graciosas, de crianças de melena cor de prata cintilando como pinceladas metálicas.
As igrejas, de madeira também. Com mais divindade.
Desenham-se os cercados de madeira, em cujos limites vêm pensar grandes bois sossegados, vagarosas vacas, delicadas e imensas.
E um carro de coberta de lona armada em arco vem rodando alegremente com um ar festivo de quem vai, mais adiante, encontrar a felicidade.
Assim se chega a Marechal Mallet, onde há uma pracinha insignificante, com meninas caladas pelos bancos.
O mais lindo chalé que se avista é o branco, de janelas verdes, que parece estar ali de propósito, esperando alguém que algum dia com mãos puras o venha copiar.
É preciso celebrar estas cercas de ripas que os paranaenses estendem ao redor das casas e ao longo dos campos. São de várias cores, umas fininhas, outras bem largas, e terminam sempre em bicos, pintados às vezes de cores diferentes. Elas recordam outras coisas igualmente maravilhosas: rendas de saias antigas, recortes de papel em caixas de figo e em caixas de bonecas. É preciso celebrar também as grades, os portões, as engenhosas coisas de madeira cruzada, de madeira sobreposta, que nestas pequenas cidades do Paraná são gestos de poesia desdobrando-se, enfeite da vida, sorriso da criatura humana, na amargura da sua breve condição.
Longe estão os pinheiros. Perto, as pereiras avermelhadas rodeiam as casas, com elegantes,aladas atitudes. Estão segurando a tarde que desce do céu azul. De um céu azul que não formou nuvem nenhuma até agora.
Para a frente, o clarão final do sol derrama no campo uma onda de fogo.
E viajamos dentro da cor.
E as casas brandamente se assentam, entre as pereiras que empalidecem.
E ao clarão do sol é agora um campo de violetas.
E a lua corre como um balão dourado atrás do trem: passa pelos pinheiros, flutua, desaparece por detrás de uma colina, por detrás do trem – e de novo boia nos ares azuis, tão leve, tão transparente, tão sem astronomia, - flor, floco de seda, madeixa de ouro e de prata que o vento leva por cima do mundo...
As vezes sou muito bairrista com relação à minha região.Mas não me culpo por isso.
Amo este meu Sul com tôdas as suas peculiaridades,suas etnias, estes céus que azulam-se em profundidade durante o dia e as tardes de céus de goiabada que prenunciam manhãs geladas de inverno.
Este nosso jeito meio caipirão de ser, esta garra e força de vontade sem limites que nos alavanca.
Moro ao Sul do Paraná,numa região onde predominam as etnias polonesas e ucranianas e este povo de origem eslava preservador de sua cultura e tradições uniu-se às nossas tradições e costumes e deu um tempero um tanto diferenciado a este rincão tão amado.
E tanto, que já nos anos trinta a fabulosa Cecília Meireles num percurso que fazia num trem internacional,passando cá por estas bandas, assim referiu-se a nossa vizinha de cerca,Marechal Malet.Distante uns 80 km de Irati.
Cecília Meireles ( Crônicas de Viagem)
Amanhecemos no Paraná, sob um sol de suave glória. Taças de pinheiros oferecem altos vinhos azuis. Aparecem as primeiras e encantadoras casas de madeira. Um mundo de brinquedos brancos, vermelhos, verdes, dispostos na veludosa caixa matinal do terno campo. Aparecem crianças louras, descalças, mirando a passagem do trem. São bonecas silenciosas e admiradas, de mãos e pés de coral, sustentando no flanco o irmãozinho pequeno, sustentando nos braços o cachorrinho peludo, ou simplesmente – como expressão virginal da terra – levantando para o trem uma flor que parece caída de sol. Como nos aproximamos de alguma estação, aumenta o número de casas, aparecem mais crianças louras, mais irmãozinhos, mais flores e agora brilha a madeira clara, desnuda, pacientemente amontoada em largas camadas de tábuas finas.
Mais adiante, madeira mais nova está secando ao sol, cruzada em X.
E aqui estão as serrarias.
E ali estão os pinheiros.
Todas as casas têm cortinas. Todas as crianças, agora, têm calcinhas de lã, casaquinhos azuis...
E um leve sol dourado galopa com os cavalos soltos nesse tranquilo mundo vegetal.
É um mundo sem fim de pinheiros, de chalés de madeira com janelas graciosas, de crianças de melena cor de prata cintilando como pinceladas metálicas.
As igrejas, de madeira também. Com mais divindade.
Desenham-se os cercados de madeira, em cujos limites vêm pensar grandes bois sossegados, vagarosas vacas, delicadas e imensas.
E um carro de coberta de lona armada em arco vem rodando alegremente com um ar festivo de quem vai, mais adiante, encontrar a felicidade.
Assim se chega a Marechal Mallet, onde há uma pracinha insignificante, com meninas caladas pelos bancos.
O mais lindo chalé que se avista é o branco, de janelas verdes, que parece estar ali de propósito, esperando alguém que algum dia com mãos puras o venha copiar.
É preciso celebrar estas cercas de ripas que os paranaenses estendem ao redor das casas e ao longo dos campos. São de várias cores, umas fininhas, outras bem largas, e terminam sempre em bicos, pintados às vezes de cores diferentes. Elas recordam outras coisas igualmente maravilhosas: rendas de saias antigas, recortes de papel em caixas de figo e em caixas de bonecas. É preciso celebrar também as grades, os portões, as engenhosas coisas de madeira cruzada, de madeira sobreposta, que nestas pequenas cidades do Paraná são gestos de poesia desdobrando-se, enfeite da vida, sorriso da criatura humana, na amargura da sua breve condição.
Longe estão os pinheiros. Perto, as pereiras avermelhadas rodeiam as casas, com elegantes,aladas atitudes. Estão segurando a tarde que desce do céu azul. De um céu azul que não formou nuvem nenhuma até agora.
Para a frente, o clarão final do sol derrama no campo uma onda de fogo.
E viajamos dentro da cor.
E as casas brandamente se assentam, entre as pereiras que empalidecem.
E ao clarão do sol é agora um campo de violetas.
E a lua corre como um balão dourado atrás do trem: passa pelos pinheiros, flutua, desaparece por detrás de uma colina, por detrás do trem – e de novo boia nos ares azuis, tão leve, tão transparente, tão sem astronomia, - flor, floco de seda, madeixa de ouro e de prata que o vento leva por cima do mundo...