Dia dos namorados: que te dar?

Te darei as paisagens sublimes da minha alma. Os silêncios maiores que me definem. Um encontro nosso, cruel em sua audácia, indiscreto em sua procura, selvagem em sua deflagração. Ou uma serenidade de mãos unidas, de olhos que se procuram, de ser-se, conformados na amena conquista. Eis, aí, meus presentes pra ti, minha menina.

Ou melhor: uma viagem. Sempre é saudável reconhecer espaços inusitados, aqueles com bastante árvores e sombras, uma lagoa plácida no centro, um revoar de gaivotas estridentes ao crepúsculo. E caminharemos, tímidos e entregues, ao silêncio envolvente de algum bosque profundo, com aquela violência agradável e destemida.

Ou colares, jóias, pérolas, flores raríssimas e exóticas. A artificialidade que te embeleza. Adornos e mimos que te elevam. São caros, eu não tenho condições. E é uma beleza emprestada, não flui diretamente para o centro da tua alma. Gostaria de te dar o essencial, música além da partitura, vôo além das asas, sede além do copo, a secreta harmonia que compomos, absortos do ofício, artesãos primitivos da paixão.

Quem sabe um dia numa praia agreste, dessas do nordeste brasileiro. Aliás, te dar um verão inteiro, entre sol e coqueiros, dunas e mangues. Brisa alada, areia escaldante, o céu e sua colheita de azul. Ou o mar azul-bahamas, profundo e refrescante, a ressaca que nos espera, aliviando uma tensão antiga e benigna. Te dar, enfim, uma alegria experimental: o descanso paradisíaco em rede de dormir.

Ou um presente mais urbano, menos poético e mítico: manhã de outono chuvoso, guardados estaremos no quarto, entregues à absorção de nos possuir. Lerei, pra você, trechos de livros antigos, poemas idílicos, receitas de brigadeiros que prepararemos, entre risos infantis e uma docilidade conquistada, vítimas do amor e sua puerícia. Um dia inteiro dedicado à compreensão mútua, a bênção nupcial a que fomos coroados: favos & mel.

Mas sobretudo te dar um cansaço agradável, fruto do desperdício humano, corpos exaustos e sem pecado. Te dar uma alegria quente, sincera, valiosa, selada com um beijo desprendido. Te dar uma dádiva eloquente, sorriso de gratidão, gestos e chás no sépio coração. Te dar uma ousadia nova, inaugurar em você uma realidade elegante – uma feminilidade exultante e sua. Chuva de rosas vermelhas, canções de ternura ao som de cítaras, o vinho e sua bendita embriaguez. Te dar sobretudo a mim, coração pulsante no acolhimento do teu sono, para coroar este nosso sonho, na terça-feira próxima, dia dos namorados.

Fernando Marini
Enviado por Fernando Marini em 11/06/2018
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