Cheiros e sons
Todos querem voltar ao tempo.
E quando pensam, imaginam maquinas avançadas
e relógios gigantes do tempo.
Mas se esquecem de que podem regressar facilmente,
Basta apertar uma tecla e pronto: de volta ao passado.
Quer saber o que se usou nas três últimas décadas?
Aperte uma tecla.
A marca daquela roupa, daquele perfume,
Daquele calçado, daquele brinquedo.
É só apertar que esta tudo lá.
Quer ouvir o jingle daquela loja,
O que se ouvia nas rádios, a programação da tv,
Ritmos e estilos musicais?
Pesquise e aperte a tecla “enter”.
Mas quando falamos em saudade, nos esquecemos de outros valores.
O respeito aos nossos pais, aos mais velhos, aos professores.
Quando nossos vizinhos saiam E guardava a chave debaixo do capacho.
Que íamos chamar os amigos para brincar e o portão estava sempre aberto.
O campinho era pequeno e as traves podiam ser qualquer coisa
E nem contávamos o tempo: virava a dez, terminava a vinte.
Quando ganhávamos a nossa calça comprida e já queríamos ir pra quermesse.
Mandar um correio elegante e trocar um casto beijinho no rosto.
No parque ir na “barca”, roda gigante e chapéu mexicano.
Ou quando o circo chegava, que magico!
Com mais idade pegar um cinema com a turma toda
E na cantina comeu um pedaço de pizza com caldo de cana.
E esperar fazer dezoito anos para assistir pornochanchada.
Enquanto isso, às escondidas o jeito era os bons desenhos do Zéfiro.
Mas a minha saudade tem sons, cores, fragrâncias e odores.
O melífluo cheiro das ervas, do mato que cocava e do capim navalha que marcava.
O corregozinho que corria escondido na mata tão silente
E o cantar estridente das cigarras...
Parece que escuto ainda.
(Antologia 2014 “passagem para o sonho)