Cheiros e sons

Todos querem voltar ao tempo.

E quando pensam, imaginam maquinas avançadas

e relógios gigantes do tempo.

Mas se esquecem de que podem regressar facilmente,

Basta apertar uma tecla e pronto: de volta ao passado.

Quer saber o que se usou nas três últimas décadas?

Aperte uma tecla.

A marca daquela roupa, daquele perfume,

Daquele calçado, daquele brinquedo.

É só apertar que esta tudo lá.

Quer ouvir o jingle daquela loja,

O que se ouvia nas rádios, a programação da tv,

Ritmos e estilos musicais?

Pesquise e aperte a tecla “enter”.

Mas quando falamos em saudade, nos esquecemos de outros valores.

O respeito aos nossos pais, aos mais velhos, aos professores.

Quando nossos vizinhos saiam E guardava a chave debaixo do capacho.

Que íamos chamar os amigos para brincar e o portão estava sempre aberto.

O campinho era pequeno e as traves podiam ser qualquer coisa

E nem contávamos o tempo: virava a dez, terminava a vinte.

Quando ganhávamos a nossa calça comprida e já queríamos ir pra quermesse.

Mandar um correio elegante e trocar um casto beijinho no rosto.

No parque ir na “barca”, roda gigante e chapéu mexicano.

Ou quando o circo chegava, que magico!

Com mais idade pegar um cinema com a turma toda

E na cantina comeu um pedaço de pizza com caldo de cana.

E esperar fazer dezoito anos para assistir pornochanchada.

Enquanto isso, às escondidas o jeito era os bons desenhos do Zéfiro.

Mas a minha saudade tem sons, cores, fragrâncias e odores.

O melífluo cheiro das ervas, do mato que cocava e do capim navalha que marcava.

O corregozinho que corria escondido na mata tão silente

E o cantar estridente das cigarras...

Parece que escuto ainda.

(Antologia 2014 “passagem para o sonho)

carlos tiokal
Enviado por carlos tiokal em 11/06/2018
Reeditado em 11/06/2018
Código do texto: T6361312
Classificação de conteúdo: seguro