comida de urubu
Quando avistei ao longe os urubus, eles pareciam imóveis no céu, como uma fotografia da paisagem. Mas não, eles voavam como sempre fazem, descreviam um imenso círculo nas alturas, sob as nuvens asperitas em Sampa, talvez houvessem sete ou oito indivíduos no bando, então, chegaram a seus potentes olfatos um cheiro que conheciam bem.
De que cheiro estou falando? Os animais rondavam os ares, para comer as tripas de um homem atropelado, seu corpo ficara "colado" debaixo do ônibus que, há algumas horas, passara-lhe por cima as rodas dianteiras, em plena avenida da zona sul, movimentada por veículos motorizados que emitem fumaça cinza de todos os dégradés e por pedestres desinteressados pela seguinte cena: um sujeito estropiado coberto de sangue pelo corpo morto, que naquele instante parecia uma “estrutura” de arte tétrica a qual es pernas estavam no lugar dos braços, que por sua vez estavam um ao lado, despegado do corpo (braço direito) o outro parecia que saía de dentro de seu crânio que olhava com olhos arregalados (braço esquerdo).
O motorista do imenso e pesado ônibus “sanfonado”, após macerar o homem desafortunado, passando-lhe o eixo dianteiro, dignou-se a manobrar o coletivo para que este também não acabasse por passar sobre a "preciosa comida" do bando de urubus lá de cima, as toneladas que pesavam os eixos, pneus e rodas traseiros. Depois, o condutor seguiu seu itinerário, apressado, como sempre fazia. Toda aquela cena parecia uma fotografia horrenda, mas não, era como um longa-metragem, tudo ali se movimentava, se movimentava e se movimentava..., exceto e por óbvio, o atropelado.