A FELICIDADE QUE RESIDIA EM CERTO CASEBRE

Todas as manhãs, como num rito sagrado, ela se levanta com o descortinar da alva. E, em um gesto desperto a mulher se levanta com cuidado para não despertar aquele homem que dormia na paz d’alvorada, pois, nem mesmo o cantarolar do galo no terreiro, nem dos pássaros lá fora, anunciando a aurora, despertava-lhe de seus lindos sonhos. Depois de fazer a higiene matinal e ter realçado a sua aparência a mulher vai à cozinha preparar o desjejum. Ela aça pão de queijo. E para o complemento ela prepara ovos e cuscuz; no cardápio matinal, também, não podia faltar o suco de caju, colhido do quintal e um bule de café fumegante.

A mulher olha através da janela para o seu pequeno mundo, e deslumbra-se com aquela manhã que lhe sorrira, e desejou colher da roseira flores para enfeitar a mesa do café-da-manhã; cantarolando mentalmente a mulher passa as mãos no avental florido, retirando resquícios de fubá e vai colher as rosas. Antes ela havia passado os olhos no interior da casa de barro, de chão batido, de decoração singela, e inundada de luzes, e pensou em seu amado. Depois de colocá-las num jarro transparente com um pouco de água ela as deposita sobre a mesa posta, e retira uma flor vermelha dentre as brancas, as amarelas e as de cor rosa e espeta-se nos cabelos um pouquinho a cima da orelha.

O homem que dormia o sono dos justos agora já se encontrava de pé recebendo o bafejar dos primeiros raios de sol daquela manhã de primavera. Ele entra na cozinha depois de ter passado pelo banheiro e disse numa voz tenor: “Bom dia, ama”! Disse o Sr. Costa. Aquele cumprimento dito num tom meigo, carioso era música para os ouvidos daquela mulher. “Bom dia amado”! Respondeu-lhe ela com os olhos brilhando. Aquela mulher tinha a certeza de que ouviria, por toda sua vida, o seu amado repetir como um mantra a mesma frase naquela hora do dia, por essa razão, ela se levantava primeiro para que não perdesse a doce sinfonia. O dia tocava sem pressa e aqueles protagonistas realizavam suas tarefas. Nunca se ouvia queixumes nem por parte dele nem por parte dela; o tempo não era posto em questão.

No final do espetáculo do dia quando a passarada cessava o canto, quando as galinhas empoleiravam-se e lá no céu já se podia ver uma ou outra estrelinha cintilar Sr. Costa pegava o violão e um banquinho, e convidava a sua amada para cantar consigo umas modinhas. Os dois pareciam não se preocuparem com mais nada. No intervalo de uma musica e outra os amantes se olhavam nos olhos, sorrindo e se beijavam. Eram beijos de amor_ com os olhos fechados, e lábios molhados.

VALDA FOGAÇA
Enviado por VALDA FOGAÇA em 08/06/2018
Reeditado em 12/06/2020
Código do texto: T6359268
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