O BRUXO JUNG.

O suiço Jung, filho de um religioso, entregou-se à leitura dos espíritos curiosos dos grandes temas. Frequentou o Kantismo com amplitude, o que por si só mostra uma inteligência complexa, por poucos agregada.

Estudou medicina na Basiléia inclinando-se pela psiquiatria, em especial interessando-se preponderantemente pela esquizofrenia.Aproximou-se de Freud, viu significação na teoria dos sonhos, recusada após diante dos psicóticos. A origem sexual teria raiz diversa.

Aqui entra o “bruxo” assim visto por alguns. Com alquimia e ritos nascidos em lendas e costumes, perseguiu a busca de fatores para a cura dos esquizofrênicos, os mártires da doença psiquiátrica.

Surgia sua grande construção, o “inconsciente coletivo”, essa “panela social” de virtualidades energéticas. Estamos mais ou menos imersos nessa grande “panela” hoje. Pode-se dizer que é o marco, o berço das normas.

A nossa sociedade aos poucos vai saindo desse porão, o “id”, o inconsciente, no caso coletivo, e se conscientizando do que ocorre com seus direitos esmagados pela prática da usurpação. Não forma só o fato social, mais veloz que a norma, sempre tardia, antes de se tornar lei, mas também estrutura a irresignação dos menos esclarecidos esse inconsciente coletivo.

No cristianismo o princípio “a quem mais se dá, mais se exige”, deve ser aplicado aos detentores do Poder. Está aí a lei da “ficha limpa/suja”, em sua bilateralidade, iniciativa popular, grande fator de mudança das eleições. Biografia suja, inelegibilidade, ficha limpa, admissibilidade de registro. Gigantesco, basta refletir no quadro atual. A influência da tomada de posição e assinaturas necessárias de eleitores lançadas no projeto de iniciativa popular que virou lei, e mudou o processo eleitoral no Brasil. Pensem em quantos de expressão com rastros indesejáveis estão obstruídos por biografias e procedimentos penais.

A racionalidade (junguiana) nada tem de cartesiano. Sua obra reflete enorme interesse pelas questões espirituais.

Faço uma analogia em razão do inconsciente coletivo de Jung.

“Verdadeiramente, aquele que olha o espelho da água vê em primeiro lugar sua própria imagem. Quem caminha em direção a si mesmo corre o risco do encontro consigo mesmo. O espelho não lisonjeia, mostrando fielmente o que quer que nele se olhe; ou seja, aquela face que nunca mostramos ao mundo, porque a encobrimos com persona, a máscara do ator. Mas o espelho está por detrás da máscara e mostra a face verdadeira. Esta é a primeira prova de coragem no caminho interior, uma prova que basta para afugentar a maioria, pois o encontro consigo mesmo pertence às coisas desagradáveis que evitamos, enquanto pudermos projetar o negativo à nossa volta. Se formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, sabendo que existe, só teríamos resolvido uma pequena parte do problema. Teríamos, pelo menos, trazido à tona o inconsciente pessoal. A sombra, porém, é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. Este problema é extremamente difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca do seu desamparo e impotência. Às naturezas fortes - ou deveríamos chamá-la fracas? - tal alusão não é agradável. Preferem inventar o mundo heroico, além do bem e do mal, e cortam o nó górdio em vez de desatá-lo. No entanto, mais cedo ou mais tarde, as contas terão que ser acertadas. Temos porém que reconhecer: há problemas simplesmente insolúveis por nossos próprios meios. Admiti-lo tem a vantagem de tornar-nos verdadeiramente honestos e autênticos. Assim se coloca a base para uma reação compensatória do inconsciente coletivo; em outras palavras, tendemos a dar ouvidos a uma ideia auxiliadora, ou a perceber pensamentos cuja manifestação não permitíamos antes.” Jung.

Nisso se afundam os valores subtraídos, materiais, que se abatem sobre os espirituais.

A temática abordada, nosso término, que assalta a todos e faz da existência interrogação permanente, se expande nas quadras da vida mais vetustas, e faz saltar das entranhas reflexões mais profundas. Mas isto nada representa para quem bebe do rio da vida sabendo com amplitude que ele acaba no mar da espiritualidade, ainda que latente nos seres humanos. Por isso, para muitos, essa parte azeda da panela fervente chamada política importa pouco pessoalmente, porém aguça somente pelo aspecto coletivo que encampa. Somos gregários de uma nação politicamente “organizada”, por território, raça e língua.

A passagem é breve, física, mas incomoda a perpetuação para todos dos vícios da vontade emanados das políticas que controlam as sociedades como no Brasil, e o inconsciente coletivo junguiano, de forma visceral, fez mudar.

Não somos monges, eles passam na vida com serenidade. Nós somos frágeis e suscetíveis ao absolutamente contrário ao direito natural de todos.

Não podemos dizer para a política: Morte, não te consideres forte, nem te orgulhes, não podes abater quem sabe que não morre, somente muda de espaço.

Encontrar com a grande realidade depois da breve passagem, é melhor do que ficar abatido pela invencível política.

O que seria ela, a morte do corpo, nesse grande estuário para onde se dirigem vários rios de pretenso saber. São eles, os rios, as águas dos temores e da incompreensão. Ela, a eternidade, já existe, sempre pertencemos à eternidade.

Em matéria ao menos, pó, ou também em sua parte nobre, espírito. Mas a política tem se mostrado imbatível.

Ontem consideramos nossa mais de meia centena de anos atrás, quando como pássaros desfrutamos de todos os céus, a infância, a puberdade, a juventude.

E a "grande realidade" parecia inexistir, mas a vida e a morte são dois estados de uma mesma forma. Difícil de compreender? Sim. Por quê? Há uma dor moral de saudade, um desencontro de uma porta que se fecha e de outra que se abre.

E nada se procura desse futuro, o verbo também é da primeira conjugação, questionar, questionar-se.

Quem não sabe o que procura pode ter surpresas. Esse o alvo de bruxarias, trazer surpresas, o desconhecido, em vão. Salvar seria outro verbo da primeira conjugação que não livra ninguém do inferno político. Precisamos nos salvar, principalmente dos políticos.

Mas esses "bruxos" também nada puderam descerrar sobre essa passagem, que só se descortina pelo que ultrapassa o umbral, a derradeira porta, mas com esperança, diferentemente da política que não cessa de matar muitos sem nenhuma possibilidade de salvação.

Poucos entendem que diante da morte a vida é uma ilusão que mata...É a dura verdade. Jung, o melhor dos dois "bruxos", soube se aproximar e ajudar os aflitos, deve estar em melhor lugar. Os esquizofrênicos da política, e muitos os há, não tem cura nem pelas mãos do “bruxo”.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 08/06/2018
Reeditado em 08/06/2018
Código do texto: T6358522
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