SABORES DA EXPERIÊNCIA. INVEJA E PRETENSÃO. 15

O maior legado do homem concentra-se na absoluta compreensão da personalidade do ser humano em geral. A compreensão envolve complexidades. Difícil distingui-las.

O mundo vagueia na convicção dos presumidos, em crenças de mera passagem, como todas. Pretensiosos dominam as verdades, fiam-se em colocações sem fundamento e razoabilidade. E o fazem em massa desfigurada. Contrariam evidências aceitas e tranquilas de avisadas estruturas históricas. Normalmente são íntimos de pouca formação, compreende-se, resgatando ideias perdidas e neutralizadas no tempo.

Nada criam, só presumem, pretendem.

O mundo pertence aos presumidos, mas estacionam na presunção, se locomovem em meio à contrafação e à inveja. Faz parte do vezo desses personagens vazios de fundo e forma o desgaste sem nenhum proveito.

A utilidade, em contrapartida, vive ensinando e ensina vivendo.

Na presunção não há reflexão, meros copistas sem elastério cerebral, nada mais. Diz Rui:

"Mas, senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas." Rui Barbosa. Oração Aos Moços.

O homem útil desconhece o peso da existência. Flana no viver, abraça a realização sem dela se ufanar. A utilidade é a graça que enriquece e alegra sua jornada. Interfere na sociedade em suas ações e atividades. A alma generosa habita morada santa da consciência pacificada pelo caminho. Se forrado de curiosidade o ser humano nas movimentações inclinadas para melhor, se alarga em compreensão sem limites, reporta a história.

Os presumidos estão sempre vigilantes, a inveja do que encanta seu despreparo espreita nas esquinas da vida. Centram a atenção no que invejam. Isso se deu nos tempos, nas eras, estão registrados os Brunos Giordanos. Foram muitos, martirizados pela inveja.

O entendimento tem fortes barreiras, simplicidades se tornam equações diferenciais como entendimento em matemática, análises combinatórias e probabilidades que nunca têm respostas exatas, como também para essa deformação da personalidade. É assim também no “logos”, nas comunicações das sinapses para apreensão do que está exposto, inexatidão. Tem campo fértil nos presumidos. Mas o grande móvel é a inveja, incorpora a terceira mente de Maquiavel nos que nada aprendem nem ensinados, e colam no que admiram seu foco, para tentarem sobreviver. Foi sempre assim desde a idade média nas grandes descobertas. A inveja se pretende altaneira, quando rasteja.

Quem chega às alturas da caminhada no tempo com o acervo da curiosidade enriquecida, carrega consigo a leveza de não ter barreiras para mais compreender, em benefício geral, e compreende com amplitude o centro gravitacional em que se movimenta a experiência na vida. Alguns íntimos no trato desses contextos, conflitos, galgam cumeadas na visão do todo. Não veem só uma árvore, enxergam toda a floresta. Com clareza.

Um preceptor meu quando jovem, invulgarmente inteligente, dizia, e deu exemplos conhecidos na época. “Fulano lê uma biblioteca e não consegue escrever com propriedade um breve ensaio, já cicrano lê uma frase e escreve vários livros, um compreende com espaços multiplicados, outro nada compreende mesmo pensando compreender”.

O espírito deve ser um filtro generoso de calma, equidade e bondade. O equalizador é a compreensão. Isso traz a pacificação espiritual tão desconhecida. Sempre nos votados às liberdades no culto a esses direitos naturais maiores, diametralmente afastado de restrições, todas, detém a possibilidade de alcançar uma visão que favorece e compreende o grande espectro onde o invejoso desponta professando restrições. Visam o que os outros conseguiram por seus dons.

Impossível salvar e melhorar amordaçando e algemando.

Não há amor em quem aprisiona ou enaltece a prisão do pensamento e do ir e vir de todos, como avulta dessas conhecidas “convenções”, pretensiosas e combatidas. São muitos os enfrentamentos. Assim mostram confessadamente muitos os ímpetos restritivos.

Quando há restrição a direitos naturais a sabedoria mínima não se avizinha e muito menos se estabelece. Seguem-se as sequelas em caudal interminável. Elas virão, serão vistas, a história já trouxe o desfile de vencidos.

Em sentido contrário nada perturba o êxtase de quem passa a vida fazendo o bem e não inibe liberdades. Nem a idade, nem a fadiga se houver, nem a doença transformam a beleza mística dos devotados. São cidadãos do mundo, conhecem a beleza da arte, a felicidade das gentes, o centro de tudo, irradiador das liberdades.

O egoísmo desses seres restritivos, instalam definitiva e permanentemente a presunção hierarquizada e sem cortinas se mexem na inveja. E assim se mostram às claras para os que têm olhos de ver.

Ausência de amor descerra a cena. O amor é a força que impulsiona e move toda a natureza. É preciso conhecer os pecados capitais com profundidade para superá-los, egoísmo e seus agregados como o grande estigma de Caim, a inveja. Ele caminhou pelo mundo como ordenado por Deus tendo no corpo a marca infeliz do justiçado, e assim também caminham seus seguidores, esse exército gigantesco que infesta todos os espaços da indigência humana, cassando liberdades.

Em dez linhas coube a verdade divina. Em nenhuma vasta coleção doutrinária cabem as vaidades nascidas do egoísmo, pai da inveja, irmão do desamor e da presunção.

As manifestações escoradas na vaidade são vícios do entendimento acanhado.

O homem conturbado em desventura, ausente de resignação, afoga no vício suas mágoas. E o leva vida afora enlameado na inveja.

Por razões de convicções pessoais acanhadas em experiência e saber assomam sem percepção fortes raízes da presunção que acha sufragar o melhor. Vivem da mentira e sonham com a inveja praticada lhes dar o que outros conseguiram, mesmo que não tenham meios ou méritos.

O que pretende ser solidariedade é encarceramento. Idolatram grades. O pensamento necessita ser trabalhado pelas lentes no avanço do que é básico.

Onde se viveu a dignidade de ser livre passam hoje grilhões de escoltas e aprisionados. E não se percebe.

É preciso voltar os olhos para essas evidências. Ser leve na liberdade de viver sem qualquer grade em qualquer conceituação. Essa encarnação de leveza não se força, é natural, existe ou não, acontece pela espiritualidade latente que chega pela grandiosidade da compreensão. A vaidade infesta muitas mentes pensadas equilibradas, contaminada do pior, a inveja, que persiste no antigo porventura já vivido, e por isso chega ao agora, com expressivo gravame para a alma tomada de inveja.

Os que regridem não podem esperar muito do que não conhecem, o desconhecido, tão decantado no “de onde viemos para onde vamos”. Nunca explicarão iniciáticos passos desses umbrais difíceis de serem penetrados.

Diríamos, viveram a vida com realidade, aceitando-a? Não, responderíamos, foram açoites, grades, obstáculos, correntes, algemas. Inveja e presunção.

A eternidade a que sempre pertencemos é sucessão de liberdades, como mutação de matéria, que é uma só coisa pelo princípio da energia quântica conhecida pela física, não tem espaço a não ser em matéria para as almas que não compreenderam a vida do pensamento, a própria alma.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/06/2018
Reeditado em 13/01/2019
Código do texto: T6358028
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