"NOSTALGIA"

Pequena cidade do interior. O pôr do sol alaranjado. A tarde que descia tranquila e serena. De repente me vejo frente a frente com um grande amigo. José da Silva. Um forte aperto de mão! Um longo abraço! Quanto tempo! Que alegria! Quantas saudades!

Procuramos o aconchego de uma sossegada lanchonete, próxima a praça da igreja Matriz. Sentamos nas cadeiras de uma mesa colocada estrategicamente na calçada. Solicitamos petiscos diversos e aperitivos para celebração do prazeroso reencontro e da eterna amizade.

A mesa ao lado também já estava ocupada por dois casais de jovens, que manipulavam celeremente os seus modernos aparelhos celulares.

Após um brinde à amizade, José indaga como estavam as coisas e a vida? Comentei que já estava aposentado e que por enquanto acostumando-me com tanto tempo livre. O tempo está até andando mais lento! E você, amigo José? Respondeu-me que continuava na ativa e com os familiares exercendo a atividade de assessoria jurídica empresarial. Correria e pouco tempo!

O garçom trouxe os pratos com os petiscos fumegantes. Observamos e tecemos alguns comentários sobre os jovens que prosseguiam manuseando os seus celulares, cada qual concentrados nos seus respectivos interesses e conexões, porém, tudo no mais absoluto silêncio.

Entre um petisco e outro passamos às reminiscências dos tempos da infância, da época em que as responsabilidades eram poucas e as brincadeiras reinantes do nascer ao pôr do sol, quando não prosseguiam noite adentro. Lembramo-nos das mais variadas brincadeiras e dos objetos que se transformavam em brinquedos; laranjas que viravam bolas; pedaços de tijolos que se tornavam traves de gols; bolinhas de gude; pescarias e natação nos rios; caçadas de estilingues; brincadeiras de garrafão, mãe da rua; pique latinha, salva, balança caixão; jogar amarelinha com as meninas; passar anel; os telefones de latinhas de extrato de tomate, cujo fio era um barbante; os carrinhos de rolimã; empinar pipas; sentar nas calçadas e contar estórias; as traquinagens realizadas; e até brigas entre amigos, que em segundos já selavam a paz; o canto obrigatório do hino da escola antes do início das aulas; o respeito aos mais velhos, aos professores e aos pais; pegar as borboletas multicoloridas com a peneira de abanação de café; perseguição aos vagalumes, que clareavam a noite com seus olhinhos luzentes; o temor das corujas, das assombrações, do lobisomem, do saci-pererê e da mula sem cabeça; andar montado à cavalo; viajar em carroça de roda dura, como se fosse àquelas carruagens dos filmes de bang-bang; o direito de sonhar e imaginar sobre o que gostaria de ser quando crescesse; escrever cartas aos familiares, amigos, namoradas e aguardar ansiosamente as respostas, que demoravam uma eternidade para chegar, entre tantas e outras lembranças. Sem dúvida a melhor fase da vida! Mas também época das dificuldades!

Às vezes, a caixinha de apenas seis lápis de cores, tinha que ser dividida entre os irmãos; a adoração dos doces marias-moles, triângulos e suspiros nas vitrines dos bares e armazéns, mas sem o dinheiro para comprar os sonhos!

Bons tempos, amigo José! Dizem que não voltam mais! Eram muitas as dificuldades, a falta de informações, mas éramos também muito felizes, mais humanos, companheiros, solidários e amigos. Éramos pessoas com coração de carne! Que dividíamos as alegrias e as tristezas!

Lembra da máquina fotográfica?! Do rádio, cuja pilha era maior que o próprio rádio, da televisão de válvulas, da caneta tinteiro e do mata borrão, da máquina de escrever?!... Ah! A máquina de escrever era fantástica! Íamos datilografando e já ia saindo a impressão!... Nenhum computador por mais moderno faz isso!...

Pois é, retrucou José. Hoje somos escravos do tempo, do trânsito, do consumismo, das máquinas, das redes sociais e estamos ficando estressados, depressivos; hoje não conhecemos o nosso vizinho do lado; não sentamos nas calçadas para jogar conversa fora. Amigos são coisas raras e extinguindo-se rapidamente. É por isso que precisamos preservar as amizades e essa felicidade de reencontrar os amigos, reviver o passado e as suas histórias maravilhosas!

Concordo, plenamente. Observa esses quatro jovens na mesa ao lado. Durante o tempo que estamos aqui, relembrando nossas aventuras, nossas alegrias, tristezas, fantasias e brincadeiras de crianças, recordando as antigas mas boas coisas, eles não conversaram entre si, aliás, pouco se olharam! O tempo todo dedilhando e concentrados em seus telefones. Estão conectados online, mas desligados do contato pessoal; dialogando com a máquina e com o mundo; milhões de informações, mas sem o contato, o cheiro, o sentimento e o calor humano. Só a máquina! Fria, previsível, insensível e aprisionando os nossos jovens!...

É, o tempo real não para e passara rápido. Já era noite. Pedimos e pagamos a conta. Levantamo-nos. Abraçamo-nos fraternalmente, sentindo o coração um do outro batendo junto ao peito; o elo e a sensação da grande e eterna amizade e a certeza de um novo reencontro para recordar, recontar e reviver os tempos idos, mas vividos, verdadeiramente! Saudades!!!