SAUDOSA PETROBRAS

A Petrobras nasceu do útero de uma nação que sonhava com sua independência econômica. Com DNA nacionalista, embalada pelo sentimento de patriotismo que permeava as nações do chamado terceiro mundo no pós-guerra.

Não foram poucas as tentativas de seu aborto pelos que trabalhavam por um modelo colonialista de arrumação do mundo, tendo os Estados Unidos como referência e patronos. O petróleo brasileiro ocupava lugar de destaque na cobiça imperialista. Considerado, por nosso lado, elemento estratégico à unidade e ao desenvolvimento nacionais. Na refrega, os nacionalistas puseram os entreguistas no chinelo, aplicaram-lhes uma sova e conseguiram emplacar o monopólio estatal do petróleo, com a marca PETROBRAS.

Durante décadas, a Petrobras foi considerada um eco, a retumbância do grito do Ipiranga, ensejando até o dia três de outubro como uma segunda data nacional. Sua bandeira era a vestimenta ostentada por admiráveis nacionalistas e por gente comprometida com a sociedade e os anseios do povo brasileiro. Sua marca, um ícone da luta contra o imperialismo. Só faltava carregar, em andor, a santa gigante brasileira do petróleo.

O respeito e a identidade nacionais inspirados pela Petrobras resultavam de suas reponsabilidades sociais, da seriedade de sua gestão e da qualidade de seus dirigentes e funcionários. O recrutamento e a seleção de empregados eram rigorosos e criteriosos. Não por indicação política.

Se nas arquibancadas das arenas desportivas de hoje se veste camisa canarinha e se grita em coro o nome pátrio, por um bom tempo, na Petrobras, se vestia a camisa verde-amarela “com muito orgulho e muito amor...” O espírito corporativo não era o da picaretagem sindical. Era do trabalho para o Brasil e pelos brasileiros. O povo vibrava e torcia com igual paixão pela Petrobras e pela seleção. Cada novo poço perfurado e produtivo era festejado como um gol contra a Argentina. O petróleo é nosso e o gol também! Bradava-se entre foguetes e sorrisos.

Intocável menina dos olhos de governos e governos, a Petrobras cresceu vigorosa e respeitada. Aguentou, sob violenta pressão, o incansável assédio dos sorrateiros “petropatifes supraequatorianos”. Resistiu bravamente às irresponsabilidades de gestores infiltrados em sua diretoria por influência política. Sem se curvar ao mando dos ditadores militares, mostrou-se fiel a sua essência, contando com o apoio e a simpatia dos nacionalistas fardados.

A Petrobras não nasceu com a pretensão de competir internacionalmente com a Standard Oil (Esso), nem a Shell, tampouco com outras gigantes do petróleo da época. Encarnava, destemida, a função social e essencial para a qual foi criada: atender à população brasileira em sua necessidade energética, oferecendo combustíveis e derivados de petróleo a preços alcançáveis pela população conterrânea.

Perseguia, pois, sem tibieza, a autossuficiência na extração e no refino do petróleo de nosso subsolo. Tinha nesse objetivo o fundamento da segurança nacional.

Dessa forma, era vista pelos brasileiros como trincheira contra o lucro e os royalties abusivos explotados da população brasileira pelos imperadores multinacionais dos combustíveis, que os abocanhavam sem aqui nada deixar.

Pautada nessa preocupação, a Petrobras evoluiu e aprimorou suas funções, sem arranhar sua independência. Desenvolveu inéditas tecnologias de pesquisa e extração de petróleo para as condições específicas do Brasil, incluindo operações em profundidades oceânicas evitadas por congêneres do setor.

Ganhou fama e espaço no mundo. Atraiu enorme cobiça de grupos internacionais. Incomodou os neoliberais, impertinentes obcecados pela redução da presença do estado na economia nacional. Daí, fez crescer dramaticamente a pressão sobre os gestores nacionais para quebrar o monopólio estatal do petróleo.

Como efeito, o monopólio estatal do petróleo não resistiu. Em 1997, o governo de Fernando Henrique Cardoso, acoelhou-se às pressões capitalistas internacionais e fez aprovar lei que permitiu à União a contratação de empresas estrangeiras para os trabalhos de exploração, produção, refino e transporte do petróleo no território nacional. Ao justificar, abusava-se da fantasiosa ideia de inserção na “economia global” como formato moderno e promissor de integração universal da sócio economia.

Assim foi dado o primeiro passo para desfigurar a Petrobras, removê-la do apreço doméstico popular e submetê-la às engrenagens do capital e dos interesses internacionais.

A desnacionalização da Petrobras corrompeu seus objetivos pátrios e borrou suas funções sociais originais. Convertida em máquina de ganhar dinheiro, com forte participação estrangeira em seu capital e mando, não mais se via, com clareza, o petróleo em suas operações. Terceirizadas, como prática moderna. Suas mãos não mais se “sujariam” com o óleo negro. Passariam apenas a contar dinheiro e dividendos na bolsa de valores.

Controlar preços de combustíveis no mercado interno? Não mais! Garantir o preço dos derivados de petróleo em patamares lucrativos para a empresa e seus acionistas, esta sua nova função.

Saudosa Petrobrás! De senhora-moça impoluta e admirada socialmente, agora desmoralizada, entregue à prostituição financeira por gigolôs da economia. De “xodó da família brasileira”, hoje escrava servil de poderosos corruptos. Usada, abusada e explorada pelos “perdidos na bolsa”, desnuda de sua pureza primária, tenta cobrir suas vergonhas com os degradáveis papéis da bolsa de valores.

Pobre Petrobrás! Na tormenta dos desmandos para o preço dos combustíveis, fala-se em sua preservação. Na condição de cambista financeiro, é claro. Cruz credo!

Nem pensam em resgatar suas funções sociais originais, de provedora de combustíveis e derivados de petróleo a preço alcançável pela população brasileira e abandonar o valor cobiçado pelos negócios internacionais!

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 05/06/2018
Código do texto: T6356172
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