AS AVENTURAS DE UMA SALA DE ESPERA

Estávamos eu e Patrícia na sala de espera de uma clínica médica. Ela acordara com uma dor forte na virilha e resolvemos ver do que se tratava.

Como o nome diz, lá eu esperava.

A secretária jurou que o médico logo nos atenderia, e que ela seria a próxima a ser chamada. Mentiras de secretárias.

Enquanto aguardava via no meu whatsapp os cento e dez bons dias que recebo diariamente e mais uma centena de postagens me mandando fazer uma ótima segunda feira. As pessoas odeiam mesmo as segundas, tamanha a quantidade de mensagens de força que são enviadas.

Olho para o meu lado esquerdo e ouço uma mulher, que fala sem parar, se queixando de sua diabete alterada. Ao seu lado aguarda também uma senhora que tinha colocado uma prótese na cabeça do fêmur com uma pilha de exames embaixo do braço. Torço para que sejamos atendidos antes delas, por que calculei que por ali a coisa ia demorar.

Chamam a mulher do fêmur antes da gente. Ela levanta-se lentamente. É obesa, tem dificuldades para se mexer, diz para o marido entrar junto, sem antes terminar de escutar o final da história interminável que a diabética tagarelava compulsivamente sem ao menos retomar o folego. Certamente falavam sobre doenças. Ela dizia que tinha um pé de insulina plantado em sua horta donde fazia um excelente chá que era tiro e queda para tratar da doença, mas que para ela, não sabia porque, não tinha funcionado.

O tempo passa. Xingo as duas em pensamento. Pé de insulina!!! Vê se pode!

A senhora arrasta seus chinelos vagarosamente até o consultório do médico, descansa a cada passo, faz alguma observação ao marido e segue mais um pouco.

A torcida era grande. Cheguei a pensar que ela não alcançaria a porta antes das onze. Quando beirava à entrada do consultório cai uma ressonância magnética que estava prensada em seu sovaco. Ela pede para o marido juntar. Como? O marido mal conseguia parar em pé. Levanto-me e junto para ela o envelope. Fui bem mais rápido que ele. Agradecida ela me conta sua história médica em detalhes e fala com entusiasmo da hérnia de disco que impede que o marido, Ernesto, se abaixe com a mesma destreza que tive para pegar o bendito exame.

Neste momento a mulher da diabete grita que também tem hérnia de disco que não lhe deixa dormir uma só noite, causada por um mau jeito que teve lavando a roupa da netinha que ficava na sua casa enquanto a filha ia trabalhar numa casa de família. Misericórdia!

Depois de um longo tempo, sai o Ernesto e a esposa. Ela, tristonha, dizendo que o médico prescrevera dez sessões de fisioterapia e uma pomada cara para passar na coxa lesada. Afirmava também que deveria se conformar com a dor. Neste ínterim a diabética prescreveu a senhora um remédio que no seu dizer era muito mais eficaz e mais barato: Compressa quente de Catinga de Mulata, planta com propriedades medicinais, que jurou ter curado uma enteada que havia torcido o tornozelo certa vez. Dispensaria até mesmo a fisioterapia. Também tinha em sua horta.

Mais alguns momentos fomos atendidos. A consulta foi rápida e direta.

Enfim, a Patrícia após fazer alguns exames descobriu que não tinha nada de grave, saímos felizes, próximo ao meio dia doidos de fome.

No estacionamento ainda tive a oportunidade de encontrar a senhora da prótese do fêmur conversando com a diabética. Coitada