Um Grande Crime

Observando o momento atual, no qual os caminhoneiros estão parando o Brasil, com a sua greve motivada por alterações nos preços dos combustíveis e dos fretes, por mais justas que sejam essas reivindicações, acredito que, em hipótese alguma, poderiam afetar a normalidade do abastecimento de alimentos, remédios, nem a normalidade de nossa segurança e de saúde, já pouco atendidas pela excessiva carga tributária de nosso país. Uma vez que quando se joga com vidas, poucas greves são legais.

Como sou ferroviário aposentado, maquinista de trens, posso falar que um grande crime foi cometido contra o nosso querido, rico e amado Brasil. Aposentei-me em agosto de 1984 com 36 anos de trabalho. Só para ilustrar o motivo desta crônica, vou citar o que era uma Ferrovia naquela época.

Já estávamos, então na FEPASA, Ferrovias Paulistas S.A. Eu era oriundo da antiga Cia Mogiana de Estradas de Ferro. Nossas linhas já contavam com novos traçados de Campinas a Araguari. Foram feitas muitas melhorias, com trilhos de último tipo, muitas locomotivas GM, GL, as alemãs Liw, e as robustas U20, para 1000 toneladas em qualquer trecho.

Se conjugadas em duplex (duas locomotivas) rebocavam 2000 toneladas (equivalente, no mínimo a 200 carretas). Mas era comum o acoplamento de três locomotivas (tríplex) para o reboque de 3000 toneladas. Tudo isso com a tripulação de 1 locomotiva (1 maquinista e 1 ajudante).

As linhas todas modernas, locomotivas novas, quantas carretas seriam necessárias para transportar essa carga?

Em minha última viagem de Ribeirão Preto à Refinaria de Paulinea, REPLAN, o trem que eu conduzi tinha 60 vagões de álcool (3000 toneladas). Destes trens corriam 5 ou 6 por dia. Ainda de Campinas a Araguari, no Triângulo Mineiro, eram na mesma proporção.

Eu gostaria de saber quem autorizou acabar com o transporte ferroviário em nosso país. O transporte muito mais econômico, com muito mais capacidade e segurança do que o transporte rodoviário de cargas. A manutenção das linhas férreas é muito mais simples, rápida e barata do que as rodovias.

O nosso Brasil não merecia essa afronta. Acabaram com uma riqueza funcionando bem. Que segundo engenheiros franceses, que aqui vinham, a serviço da FEPASA, nos afirmavam que em matéria de estradas de ferro de bitola estreita as linhas da antiga Mogiana eram as melhores da América do Sul. E as linhas da antiga Cia Paulista de Estradas de Ferro, eram as melhores em matéria de bitola larga.

Concluindo, o Brasil não merecia isto. Os países mais desenvolvidos do mundo mantêm as suas ferrovias funcionando com muita eficiência, tanto para o transporte de cargas quanto para o transporte de passageiros.

Laércio
Enviado por Laércio em 03/06/2018
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