TRANSMUTAÇÃO
Saiu taciturnamente da casa como lhe era de costume. Nada para ele parecia igual ao que sempre havia sido. O céu, o pequeno jardim, os sons, os aromas... Só quem pudesse observar-lhe de frente, poderia notar-lhe pelo brilho do olhar, que por trás daquele semblante, já não existia aquela figura germinada no passado... E pelo passado...
Observando tudo ao seu redor, só após se passar longo e interminável minuto, notara-lhe a falta de roupas... Estava nu!!!E alegrou-se por estar nu!E bailou consigo mesmo... E viu que ninguém melhor que ele , poderia acompanhar-lhe nessa desnuda dança; nesse infinito salão...
De repente!Algo extraordinário acontece. Ele nota que agora, pode controlar cada célula, cada átomo de seu copo. Sente que pode controlar todos os seus impulsos e emoções... Fantástico!!!!!!!!!!!Grita guturalmente para si mesmo, como se até então estivesse surdo as suas próprias palavras... Mudo ante seu introspectivo silêncio... Viu que até então vivia morto dentro de si.
Sem nenhuma resistência átomo-celular, lentamente enfia a mão em seu peito, e , o que traz de dentro de seu torax, nada mais era que seu próprio coração... Olhou para ele espantado. De onde poderia ter vindo tanta crosta? Estava a ponto de ter um ataque cardíaco sem o saber até então. Calmamente, passa a limpar o coração de todas as mazelas do passado; dando-lhe um novo brilho, uma nova nuance. Uma nova chance...
Após certificar-se de ter o coração funcionando no ritmo de seu novo ser, passa a concentrar-se em seu espírito. E de sua boca sai lentamente sua alma...Também impregnada de mofo do passado... Que ele com muito cuidado; leva para secar sob um novo sol... Sob um novo céu... Sobre um novo ser... Contente por ver que ainda havia como reverter o efeito do mofo que, fora de tempo impregnado. Sorri!
Atravessa a parede da casa qual um fantasma. Quando se da conta, já esta no banheiro... Ele não defeca, Não urina, não se banha, não se barbeia, não se escova, não se masturba... Apenas faz o que nunca fez, e, como nunca o fez!Não o sabe fazedor. Vai à sala. Não senta no sofá, não ascende à lareira, não liga o som, nem tão pouco a TV. Apenas pensa o que nunca pensou; e, como nunca pensou! Nada mais queria pensar, a não ser, naquilo em que nunca havia pensado pensar. Pensou...
Deita-se como nunca se deitou antes... E vislumbrou o porvir, tendo em si, a certeza que a partir daquela transmutação, ele passaria a sonhar... Ninguém mais pensaria por ele!Ninguém mais falaria por ele! Ninguém mais seria ele. Apenas ele mesmo... E todo um novo mundo agora descortinava-se ao seu redor... Ri! E dorme o sono dos independentes!Dos não vendidos pelo consumo...
LEILSON LEÃO