Cucaracho
Já há algum tempo; há anos que quase todo mundo passou a ter um amigo que foi embora do Brasil. A maioria para os Estados Unidos. Por ambição ou esperança... Ou as duas coisas e outras mais. Há quem vá para a Europa “pra ganhar em Euro” e mandar uma grana pra família. Não sei se seria feliz nessas paragens gringas. ...Mas há quem vá. E é muita gente. Certa vez um amigo que tinha um amigo nos States, falando com ele por telefone (não tínhamos ainda o Whatsapp) cheio de malícia perguntou: - Tá se dando bem aí né, véi! Pegando todo mundo; essas americanas lindas daí né?” O cucaracho, apesar de “bem formado” (ele tinha curso superior de alguma coisa) trabalhava ainda como frentista, repondeu: - Meu véi, você deu bom dia hoje de manhã para o gari que varre a sua rua?
- Não!
- Pois é, eu aqui sou tão visível quanto ele: as gringa me vê mais não me enxerga!
O meu amigo ficou murcho. Foi um soco nos sonhos de quem não tem clareza das situações. Mas isso é coisa que nos ocorre: até passarmos por alguma experiência semelhante; não temos uma idéia clara de como as coisas são. Dizemos que é preconceito, mas é mesmo. Só que respaldado pela versão específica daquela cultura. Como não ser um tanto condescendentes com “eles” quando por aqui mesmo temos os nossos? Nós, que nos conhecemos tanto! Que sabemos os segredos da linguagem e dos costumes! Na verdade, a mesma língua deixa as separações até mais claras.
Já há algum tempo; há anos que quase todo mundo passou a ter um amigo que foi embora do Brasil. A maioria para os Estados Unidos. Por ambição ou esperança... Ou as duas coisas e outras mais. Há quem vá para a Europa “pra ganhar em Euro” e mandar uma grana pra família. Não sei se seria feliz nessas paragens gringas. ...Mas há quem vá. E é muita gente. Certa vez um amigo que tinha um amigo nos States, falando com ele por telefone (não tínhamos ainda o Whatsapp) cheio de malícia perguntou: - Tá se dando bem aí né, véi! Pegando todo mundo; essas americanas lindas daí né?” O cucaracho, apesar de “bem formado” (ele tinha curso superior de alguma coisa) trabalhava ainda como frentista, repondeu: - Meu véi, você deu bom dia hoje de manhã para o gari que varre a sua rua?
- Não!
- Pois é, eu aqui sou tão visível quanto ele: as gringa me vê mais não me enxerga!
O meu amigo ficou murcho. Foi um soco nos sonhos de quem não tem clareza das situações. Mas isso é coisa que nos ocorre: até passarmos por alguma experiência semelhante; não temos uma idéia clara de como as coisas são. Dizemos que é preconceito, mas é mesmo. Só que respaldado pela versão específica daquela cultura. Como não ser um tanto condescendentes com “eles” quando por aqui mesmo temos os nossos? Nós, que nos conhecemos tanto! Que sabemos os segredos da linguagem e dos costumes! Na verdade, a mesma língua deixa as separações até mais claras.